Dia 5 de maio de 2018. A professora Julieta Almeida andava pelas ruas de Quixadá/CE quando passou em frente ao prédio vicentino e, ao lado, estava um senhor sentado na rua. Aparentava ter uns 60, 65 anos. Sem dizer uma palavra, o senhor estendeu a mão à professora, que baixou a cabeça para procurar algo para lhe dar na bolsa. Ao levantar os olhos, seus olhares se cruzaram, profundamente.
Julieta sentiu-se arrepiar. “Vi no olhar daquele irmão, nitidamente, um olhar límpido e profundo, o olhar de Cristo ressuscitado. Tudo foi e ainda é lindo. Nunca mais posso esquecer a revelação daquele olhar. Compreendi ali que era o próprio Deus que se revelava através do olhar daquele irmão para eu sair do comodismo, parar de ficar somente na areia da vida vendo o barco passar. Naquele momento estava sendo convidada para avançar em águas mais profundas no campo da Missão”, conta. Essa revelação de amor fez a professora entender que trabalhar para o Senhor não é reinado e sim, apostolado.
Como já dito, tudo aconteceu no dia 5 de maio de 2018. No dia seguinte, ela iria conhecer a Conferência Sagrada Família, a convite de uma colega de trabalho, hoje falecida, a consócia Aureni Saraiva. “Cheguei antes das 19 horas, me senti tão bem, fui tão bem acolhida, que desejei ficar. E aqui estou até hoje e só posso dizer ‘Aqui estou, Senhor’. E como Ele me chamou, através daquele senhor e da consócia, Ele me capacita, todos os dias. Sei que não estou pronta, mas Ele me capacita”, recorda.
Naquela noite, o presidente da Conferência, confrade Petrônio Torres, pediu que fosse lido um pequeno texto sobre Ozanam. “Confesso que foi amor à primeira vista entre mim e Ozanam. Meu coração palpitava de alegria naquele momento. Eu, que já era escritora, passei então a escrever mais, para que meu conhecimento científico possa ajudar a todos que precisam.”
A professora se reafirma uma apaixonada por Ozanam. “Mergulhando nos textos e cartas de Ozanam, vi que na multiplicidade de seus dons, ele usava a academia a serviço dos irmãos. E vi nele, virtudes especiais, como filho, pai, esposo, homem da Igreja e desejei mais uma vez, e desejo todos os dias, que nos ajude para que nós da SSVP busquemos todos os dias a Santidade; trocar o coração de pedra pelo de carne, e todos os dias buscar estar sempre a serviço da SSVP e servir com excelência e amor nossos Mestres e Senhores, os Pobres”.
Julieta destaca que tem consciência de que é chamada por Deus para usar a Educação para mudar a vidas das pessoas, inclusive dentro do Carisma da SSVP. “Devemos estar todos os dias contribuindo, como cristãos que somos. Ozanam tinha consciência que Cristo explica o sentido do viver humano. Não basta termos a grandeza do Cristo em nossas mentes, nos discursos, precisamos ter consciência do nosso ideal de vida, de amor, de santidade e viver de forma completa, para darmos passos largos e sábios, usando todos os recursos que temos. Ozanam cita os três sustentáculos de vida, nos colocando sempre a serviço. Devemos ter fé, sermos sempre confrades e consócias de oração e de sacramentos. Temos que experimentar todos os dias a importância do outro para Deus. E com o coração cheio da graça de Deus, devemos agir. Devemos beber todos os dias na fonte da graça do Senhor, nas raízes profundas e proféticas da SSVP para que a vida seja realmente um serviço, de fato”, avalia.
Hoje, aos 59 anos, a consócia lembra que na época do convite para conhecer a SSVP e do encontro com aquele Senhor, pouco sabia sobre a Organização. “Eu conhecia a SSVP ela escola de excelência que tinha em Quixadá para as famílias que não tinham como pagar uma particular. Meu filho mais novo, Franklin, estudou lá. Eu era já naquela época uma leiga muito atuante na Igreja, tinha um trabalho no grupo dirigente do Encontro de Casais com Cristo, nas pastorais e movimentos. E no dia 2 de maio de 2018 fui proclamada e é inenarrável escrever. Foi algo tão extraordinário em minha vida, até hoje fico com lágrimas nos olhos, faço uma viagem ímpar em meu interior toda vez que me lembro e só me vem as palavras de Maria: ‘O Senhor fez em mim maravilhas’. Sei que é o amor incondicional de Deus se revelando em minha vida”, finaliza.
E daquele encontro com o senhor na rua, ao lado do prédio da SSVP, muito mais do que a lembrança e o inicio do seu caminho vicentino, a escritora compôs uma música:
AQUELE OLHAR
Aquele olhar não era meu
Aquele olhar não era dele
Aquele olhar era tão grande
Tão especial, era do Senhor
O momento nos envolveu
Na luz daquele olhar
E tudo aconteceu
No jeito de mim amar
Então, eu, pude logo compreender
Que era o Senhor a mim chamar
Vem, segue – me, vai de mim falar
É preciso evangelizar…
Sei, escondido muitas vezes é
Que escondido vai estar
É o teu querer, fazendo acontecer
No jeito de mim amar…
Grandiosa ciência a reinar
Deixando tudo ser
Fazendo acontecer
No irmão, a cada dia, a me olhar
Recebe o meu canto, meu louvor
Peço, por favor Senhor
Vem comigo estar
Sem Ti, nada sou no caminhar
Faz outra vez em meu viver
O milagre acontecer
Preciso continuar em tua luz
Somente tua graça me conduz…