Lançado o livro do Ano Temático 2023: A mística da visita aos Pobres

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 O Conselho Nacional do Brasil lançou no último dia 3 de dezembro o livro do Ano Temático 2023: “A mística da visita aos Pobres II.” O tema escolhido pelo CNB não é uma grande novidade, mas é essencial para o trabalho vicentino Brasil afora e para manter viva a Rede de Caridade sonhada por Frederico Ozanam. E para escrever o livro, foi convidado o ex-presidente do Conselho Carlos Henrique David, o Kaike, que já havia escrito sobre o tema há 12 anos.

O presidente do CNB, confrade Márcio José da Silva, explica que o tema foi escolhido porque a Sociedade de São Vicente de Paulo não tem razão de existir, seja em que escalão for, senão para que os seus associados, confrades, consócias e aspirantes, visitem os Pobres. “Considerando e reconhecendo a importância, necessidade e valor de cada Unidade Vicentina, sejam elas Conferências, Conselhos, Obras Unidas ou Obras Especiais, nada será necessário se os vicentinos não visitarem os Pobres. Visitar os Pobres, eis a vocação e missão de cada um, confrade, consócia e aspirante, na Sociedade de São Vicente de Paulo”, diz.

Márcio ainda destaca que “esse momento desafiador de retomar o ir até os Pobres, nos possibilita tomar conhecimento de que uma visita pode criar oportunidades, propor melhorias, alavancar produtividade, construir diálogos, nos aproximar e que tudo isso pode e muito melhorar a vida dos nossos assistidos em nossas Unidades Vicentinas”.

Sobre o livro, o presidente é enfático: “Nos possibilita uma saborosa leitura sobre o que mais fazemos na Sociedade de São Vicente de Paulo: visitar, visitas semanais à casa dos Pobres, e visitas aos residentes e atendidos de nossas Obras Unidas e Projetos Sociais, pois é da visitação de Nossa Senhora a sua prima Isabel que herdamos esse ir ao encontro do outro, sendo essa a nossa vocação de visitadores dos Pobres – aí está a mística da nossa espiritualidade e do nosso carisma vicentino”.

Como já dito, o tema do livro, não é novidade para o autor. O confrade Kaike, além da vivência vicentina e de ter ocupado a presidência do CNB, já debateu o tema da mística da visita aos Pobres, em uma coletânea de artigos escritos por ele, por iniciativa própria, em 2011. “Na época eu havia escrito uma série de artigos para a Voz de Ozanam, do Conselho Metropolitano de São Paulo e veio a ideia de reunir o material em um livro. Na época, os artigos retrataram de forma simples nossas visitas aos Pobres e eram um incentivo para aprimorarmos mais as visitas aos assistidos”, lembra.

Mais de 10 anos depois, veio o convite para escrever um novo livro sobre o assunto e Kaike abraçou a ideia. Mas antes de falar do novo livro, o autor faz questão de explicar o que é essa mística. “Dentro do nosso espírito de vocacionados vicentinos, vemos os Pobres como o próprio Cristo. Como o próprio Evangelho diz, quando ajudamos o Pobre estamos fazendo ao próprio Jesus. E é assim que vemos, na nossa mística de ver no nosso trabalho algo divino, não apenas um simples gesto de solidariedade. É algo muito mais complexo e que requer compromisso. É algo que vem e vai para Deus”, conta.

O Livro 

E como desvendar e adaptar a mística da visita nos dias de hoje? Essa foi a reflexão feita por Kaike, ao longo das 103 páginas do livro. “A nossa geração passa por algo nunca visto, que foi essa pandemia mundial da Covid-19. Foi e segue sendo um momento muito difícil para nós enquanto pessoas e enquanto Sociedade. A SSVP precisou se adequar naquele momento agudo, com suspensão das reuniões presenciais e nos desdobramos e nos reinventamos para não deixar os Pobres sem a ajuda, o amparo necessário, principalmente naquele momento que mais precisavam. Então, escrever o livro vivendo esse contexto foi bem desafiador, bem como destacar a importância do resgate de voltarmos a beber diretamente nas nossas fontes, que são as visitas e as reuniões da Conferência. Sabemos o quanto é importante construirmos junto com os Pobres, para Eles e por Eles um mundo melhor”, afirma Kaike. 

Além do desafio de rever o assunto, dadas as questões mundiais, Kaike enfrentou as questões pessoais. “A pandemia deixou tudo muito mais corrido, passei a trabalhar home office, estava numa fase pré-casamento, mas não poderia deixar de aceitar esse convite, dada a importância do tema para a Sociedade. Tenho uma facilidade muito grande para falar, mas escrever é outra coisa. Então, tinha os finais de semana e feriados para fazer, mas foi uma oportunidade muito rica de estudar e me debruçar no tema”, argumenta.

Kaike ressalta que o livro não tem a pretensão de ensinar o vicentino a fazer a visita ao Pobre. “Isso não se ensina e quem seria eu, um confrade cheio de erros para ensinar? O livro quer que a gente pense sobre vários aspectos da visita: o que podemos melhorar, como podemos melhorar, como enquanto SSVP e amigos podemos nos ajudar a fazer um trabalho cada vez melhor. É uma oportunidade de motivar, proporcionar essa reflexão. O livro não é uma Regra, são pensamentos e reflexões para que, a partir dele, possamos ter debates melhores e mais profundos em nossas Conferências, Conselhos, Departamentos, formações, Obras Unidas. O objetivo é caminhar para melhores visitas, aprimorar nossas visitas e com elas libertar os Pobres de tantas injustiças. Não é algo pronto e acabado, é uma oportunidade de seguirmos e aprofundarmos as discussões”, enfatiza. 

As diretrizes que o livro traça são simples, segundo o autor, mas de extrema importância para reflexão real da vida vicentina e da visita aos Pobres, seja na casa deles, nos asilos, hospitais, comunidades ou mesmo nas ruas. “Busquei retratar o dia a dia dos vicentinos em uma série de situações: como abordar, como fazer nossas visitas e, principalmente, como olhar para os nossos assistidos e como temos que respeitar os Pobres. A única exigência da SSVP para ajudar uma pessoa é essa pessoa necessitar de ajuda. Ponto.  Não estamos ali para julgar, impor pensamentos, doutrina religiosa ou pensamento político. O livro é isso. Ele tenta trazer o dia a dia das nossas visitas, com várias abordagens sobre visita aos Pobres, o respeito, o trabalho da justiça social, a forma da gente rezar nas Conferências e nas visitas, porque a visita é uma forma de oração, e vários outros pontos”, elucida Kaike.

O autor ressalta que o livro é feito por textos simples, curtos e que devem ajudar bastante os vicentinos. “O mundo em geral, e o Brasil também, contempla uma injustiça social muito grande. Poucos com muito e muitos com muito pouco e até em situação de extrema pobreza. Os Pobres querem e merecem uma vida melhor. E nós, enquanto SSVP, temos que buscar, através do nosso trabalho, seguindo Frederico Ozanam, lutar sempre pela Justiça e onde a Justiça não conseguir atingir seu grau máximo, que possa existir a caridade. Temos que construir um mundo melhor e o livro nos convida a ter uma relação melhor com nossos assistidos e assim construir esse mundo”.

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