No ano passado, o Conselho Nacional do Brasil (CNB) lançou um desafio para descobrir a Conferência de Crianças e Adolescentes (CCA) mais antiga do Brasil. Um concurso foi feito e a documentação de 22 Conferências foram enviadas. E dentre elas, a CCA Mais Antiga do Brasil é a Conferência Aspirantes Menino de Jesus, de Caeté, em Minas Gerais, fundada há 66 anos, em 5 de dezembro de 1956.
Dentre o material enviado, está a Ata Histórica da preparação até a fundação da Conferência do Menino Jesus, bem como as atas das primeiras reuniões. E,baseado nelas e no relato de confrades que participaram deste momento, vamos contar a história da CCA mais antiga do Brasil, que na época se chamava Conferência de Aspirantes!
“O confrade secretário da Conferência Santana deu a ideia ao senhor presidente da mesma da fundação de uma Conferência de aspirante, isto é, para os meninos. O Senhor presidente aceitou e levou a proposta para o presidente do Conselho Paroquial, José Brandão, o qual aprovou essa ideia, dando determinação para que fosse fundada a Conferência. Aos 5 dias do mês de fevereiro de 1956, às 9 horas, foi iniciada a reunião de preparação da Conferência de aspirante, sob a presidência do confrade da Conferência Santana, João Edwirgens F. Torres. Na ocasião, explica a ata, eram 11 meninos.” (sic)
A ata segue explicando várias reuniões foram feitas ao longo dos meses até que “às 18 horas, do dia 10 de abril de 1956 foi iniciada a reunião presidida pelo confrade João Edwirgens F. Torres, que é o relator desta ata. Tendo a presença de diversos meninos (…), foi dito que a Conferência do Menino Jesus ficava oficializada naquela Assembleia, conforme as determinações do Conselho Paroquial de José Brandão (…). Ficando instalado o Conselho Paroquial de Caeté e diversas Conferências: onde a nossa também ficou instalada, sendo proclamados 15 meninos. Ouvimos diversos oradores, inclusive o padre Saraiva, que está no lugar de Padre Vicente, nesta festa coligada com os vicentinos de Caeté e os vicentinos de José Brandão”.
E assim se formou a primeira CCA de que se tem conhecimento oficial no Brasil. Em Pedra Branca, no dia 22 de abril de 1956, aconteceu a primeira reunião da Conferência. “A reunião foi realizada às nove horas na capela de Nossa Senhora Sant’Ana em Pedra Branca, a sessão foi presidida pelo presidente João E.F. Torres. Foi feita as orações, depois a leitura espiritual do livro Imitação de Cristo. (…) Foi lida a ata Histórica e aprovada. Meninos que desejam fazer parte da conferência: Ronei Francisco de Souza, Romeu Iser de Sousa, Laércio Agostinho de Oliveira, Raimundo Fernandes, Adair Lacerda de Souza. Visitante, Jésus Rafael da Fonseca. Foi feita a chamada pelo secretário com presença de 15, justificativas 1. A 1ª coleta CR$7,50 – coleta que pertence a bolsa D. Silvério – CR$1,80 (Cruzeiros). Foi encerrada a reunião às 10 horas e 8 minutos”.
Com a documentação aprovada pelo CNB, a CCA recebeu o título de “A mais antiga do Brasil”. “Além de ajudar no resgate histórico da Sociedade, a CCA Menino Jesus irá receber R$ 5 mil e o Conselho Central Nossa Senhora da Piedade, outros R$ 5 mil para desenvolverem atividades com suas crianças e adolescentes”, conta a consócia Maria Aparecida Peteck, a Cida, Coordenadora Nacional de CCA. Ela destaca que pode ser que exista outra mais antiga, contudo, entre as que enviaram a documentação, a Menino Jesus é a classificada.
Sob os olhos de quem participou
O confrade Jadir Augusto Martins foi o primeiro secretário da Conferência de Aspirantes Menino Jesus. Ele lembra que tinha nove anos quando seu pai, Osvaldo Martins, que era vicentino e presidia a comissão da comissão que construiu a Igreja Sant’Ana, o levou para participar da Conferência. “Na época ela era presidida pelo João Ferreira Torres e me colocaram de secretário, aos nove anos, imagina como eu escrevia”, brinca ele que virou professor de português.
A Conferência Menino Jesus, ao ser formada, pertencia à Matriz de São Francisco de Assis. “No início éramos mais ou menos 10 crianças. Tenho tantas lembranças. Começamos estudando Frederico Ozanam, São Vicente Paulo e a SSVP. Fazíamos as visitas semanais e buscávamos sempre inovar. Fazíamos tudo o que podíamos para levar mais do que a cesta básica para os assistidos, para levar alegria. Tanto que começamos a realizar a Novena de Natal, que até então era restrita aos vicentinos, à casa dos assistidos. Fizemos essa integração e depois nós, as crianças, fomos passando isso para as outras Conferências”, recorda.
O trabalho de inclusão dos assistidos em atividades vicentinas deu fruto. “Muitas crianças quando as famílias deixavam de ser assistidas passaram a frequentar a Conferência Menino Jesus e seus pais, as Conferências de adultos”, conta.
Jadir diz que a Menino Jesus foi um aprendizado para ajudar os Pobres. “A Conferência me trouxe a certeza de que é preciso colocar em prática as palavras de Jesus. Ela foi o alicerce de tudo, da vida espiritual. Estou com 80 anos e me lembro até hoje do que aprendi e vivi lá. Sempre me recordo dos ensinamentos, por isso, me enche de felicidade saber que a nossa Conferência foi a primeira de crianças do Brasil”, revela ele, que por conta das dificuldades de locomoção não frequenta mais a Conferência Sant’Ana.
O senhor Antônio Duarte Pedrosa, de 79 anos, também esteve na formação da Conferência Menino Jesus. Morador de Caeté até hoje, ele recorda com carinho dos tempos de adolescente. “Naquela época, existia a Conferência de Adultos e a gente participava. Daí resolveram pela fundação de uma Conferência Infantil, de Aspirantes. Eu tinha 13 anos e participei até bem adulto”, conta ele que depois passou a frequentar a Conferência Sant’Ana e só parou de ir por causa das limitações da idade.
Ele lembra que as crianças e jovens participavam das missas e faziam as Leituras na Matriz São Francisco de Assis. “Na Conferência eu aprendi, em primeiro lugar, a religião. Até hoje eu me lembro do presidente João Torres cantar ‘A nós desceis’”, conta ele, parando a entrevista para cantarolar a música.
Seu Antônio segue enumerando os aprendizados: “Em segundo, o respeito aos mais velhos; em terceiro, me moldou como pessoa, na ajuda e na caridade, ao ver os mais Pobres nas visitas, sempre acompanhados por adultos e, em quarto, a gente aprende a servir, sempre trabalhando nas festas da Igreja”, detalha.
Ao saber do título que sua Conferência ganhou, ele comemorou. “Eu fiquei muito satisfeito e feliz. Nunca imaginamos que isso poderia acontecer”. E para os mais novos, esse senhor de fala calma, que faz parte de uma parte importantíssima da SSVP deixa um recado: “Se eu pudesse, eu orientaria as crianças a frequentarem uma CCA. Os tempos mudaram muito. Eu, com 13 anos, trabalhava para ajudar meus pais. Hoje em dia, a criançada não trabalha, reclama de estudar e está perdendo o respeito pelos mais velhos. É muito triste ver isso. E lá a gente aprende todos esses valores que hoje em dia são tão difíceis de ver na juventude”, finaliza.
Outro vicentino que lembra com clareza e carinho da CCA mais antiga do Brasil e o atual vice-presidente do Conselho Particular Sant’Ana, o confrade José dos Santos Moreira, de 74 anos.
Ele entrou na Conferência de Aspirantes Menino Jesus quando ela já funcionava, em 1964. “Quando eu comecei na Conferência, eu tinha 14 anos. A minha lembrança é de que ela era muito ativa. Era rigorosa quanto às visitas semanais e a entrega de cestas toda semana. Para um jovem participar daquilo tudo era muito interessante e enriquecedor. Fiz grandes amizades na Conferência e quando adulto trabalhei com vários amigos que conheci lá. Temos contato até hoje”, conta.
Para José, a Conferência voltada aos mais novos foi essencial em sua formação. “Ela me ensinou o caminho da caridade e o gosto pela SSVP. É um caminho para aprendermos a seguir Cristo”.