Hoje é Dia Internacional da Família. E nada melhor para comemorar essa data tão especial do que trazer a história de famílias que estão na Sociedade de São Vicente de Paulo há gerações. Dentre tantas, separamos três histórias que mostram como o amor e os ensinamentos de São Vicente de Paulo e Ozanam construíram famílias sólidas e que encontram na fé a sustentação nos momentos de dificuldade.
A família do confrade Vanderson Tiago dos Santos, coordenador da Comissão de Jovens do Conselho Metropolitano de Belo Horizonte/MG, ingressou na SSVP há cinco gerações e pelo lado materno e paterno! Para começar o desenho dessa árvore genealógica vicentina, vamos começar pelo lado paterno, que é a segunda geração de vicentino da família. O avô de Tiago, confrade Pedro Carolino dos Santos, de 91 anos, é vicentino há 50 anos. Ele conheceu a SSVP ainda criança, quando morava na roça, em Gonzaga/MG. Seu tio, Efigênio Rodrigues dos Santos, e seu irmão Joaquim já eram vicentinos. Pedro tinha por volta dos oito anos e queria participar da Sociedade, mas, pela pouca idade, não podia. Os anos se passaram, Pedro se casou com Luzia em 1952 e anos mais tarde, em 1967, o casal se mudou para Belo Horizonte. O chamado de Deus não se calou no coração de Pedro e na capital mineira ele foi levado a uma Conferência pelo amigo de trabalho, João, e foi proclamado em 1972.
Apesar de Luzia não ser vicentina, ela acompanhava e incentivava o marido. Segundo ele, Luzia tinha o espírito vicentino. O casal teve oito filhos: Valdivino, Valdemar, Maria do Carmo, José Geraldo, Valdecir (já falecido), Irani, Hilda e Eni, todos vicentinos. “Eu ia para as reuniões e eles queriam ir. Eu levava. Eles foram se entrosando e todos são vicentinos. Todos na família já ocupamos cargos dentro das Conferências, Conselhos Particulares, Centrais e Metropolitano”, conta orgulhoso.
Depois dos filhos, vieram os netos: 14 ao todo e segundo seu Pedro, todos vicentinos. O que lhe dá ainda mais orgulho. “É importante estar dentro da SSVP. Somos todos unidos enquanto base familiar. Eu tenho muito alegria por isso. Vivemos hoje em um mundo cheio de confusões e Deus, por meio da SSVP, me deu uma família unida, caminhando no bem, coisa que nem sei se mereço, mas agradeço. A Sociedade é um alicerce para minha família, não consigo imaginar família fora da SSVP. Fico muito satisfeito de ver todos lá, nos princípios católicos”, diz Pedro ao lembrar que quase todos os domingos a família se reúne para tomar café junta.
Dentro da SSVP, na Conferência São Judas Tadeu, que frequenta até hoje, Pedro conheceu um grande amigo, confrade José Ambrósio de Almeida. E é aí que a história do nosso coordenador Tiago começa a ser desenhada. Ambrósio tem 87 anos e há 77 é vicentino. Sua história com a SSVP começou na curiosidade, na região de Peçanha/MG. Ainda menino, com 10 anos, ele e o irmão João, de 15 anos, viam alguns “senhores vicentinos” irem à Igreja e começaram a acompanhá-los. “Eles não faziam conta da gente. A gente ia, ficava lá quietinhos, no canto da Igreja, onde eram as reuniões. Naquela época não tinha jovem nem mulher na SSVP. Um belo dia, eles nos perguntaram o que queríamos e dissemos ‘ser vicentinos’. De lá para cá não saí. Aprendi a amar as pessoas na sociedade. Tudo o que tenho no mundo em termos de fé aprendi lá”, lembra.
E não é que seu Ambrósio também foi morar em Belo Horizonte? Lá conheceu Ana, o amor de sua vida, falecida há 18 anos, e segundo ele, “escolhida por Deus para mim”. Casaram-se em 1957 e Ana também se tornou uma vicentina. Daí vieram os filhos. E quantos filhos! Vinte e dois ao todo. Infelizmente, Ana teve seis abortos, mas como diz seu Ambrósio, esses filhos entram para a conta. Dos 16 filhos, hoje nove estão vivos.
Valdivino, Mário, José, Geraldo, Jorge, Vicente, Ronaldo, Paulo, Adriana, Maria do Socorro, Silvana, Antônio Carlos, Carlos Antônio, Reinaldo, José Maria e Eliana cresceram dentro da SSVP. “Todos os 16 foram vicentinos e criados dentro da Igreja. Alguns se afastaram das reuniões, mas creio que seguem sendo vicentinos nas ações. Passamos por dificuldades sim, mas todos foram educados com muito amor, na Igreja e na SSVP. A geração de hoje não tem a mesma educação daquela época. Muitos não respeitam os pais, são desobedientes. A religião, então, é muito importante na educação, no caminho correto. Não tenho filho que se desviou”, conta.
Dessa prole imensa, hoje o confrade Ambrósio tem cerca de 30 netos (confesso que quando perguntei, ele se perdeu nas contas… o que não é de assustar) e 15 bisnetos. E dentre os netos, está nosso coordenador de CJ, Tiago, filho do Valdivino (filho do seu Pedro) e da Maria do Socorro (filha do seu Ambrósio).
“Tenho muitos netos na Sociedade e já tem bisneto também. Então, são cinco gerações. Eu queria que todos fossem vicentinos, mas tenho muito orgulho da família que construímos. Saber que eles estão na SSVP é um modo de eu viver mais tranquilo. Minha vida sem a SSVP não é vida. Vou morrer vicentino, com orgulho e prazer”, resume o vicentino que hoje frequenta a Conferência São Sebastião.
Antes de desligarmos o telefone, seu Ambrósio deixa um conselho para aqueles que querem formar suas famílias, conselho sábio, apesar dele afirmar que não tem a cultura necessária (no que afirmo e reafirmo: ele está tão errado!): “O caminho da SSVP é o melhor que existe. Ele leva a Jesus Cristo e à caridade. É o melhor para se construir uma família”, finaliza não sem antes convidar a jornalista que escreve a encontrá-lo em Aparecida para um almoço, pois creiam, ele ainda faz questão de visitar o Santuário, apesar da idade.
A segunda família que trazemos para contar sobre a importância da SSVP na sua consolidação é a do confrade César Custódio da Silva, Coordenador da Ecafo do CNB . A história dessa família na Sociedade começa com seu avô paterno, confrade José Manoel da Silva, que frequentava a Conferência Nossa Senhora das Graças, em Bom Jesus do Rio Preto, paróquia de Imbé/MG.
Casado com Minervina Maria de Jesus, José Manoel teve oito filhos, entre eles, Terezinha da Silva Melo, de 82 anos, mãe do confrade César. Quando crianças, todos os acompanhavam o pai nas reuniões da Conferência, que era realizada na Igreja, e ficavam no cantinho observando. O tempo foi passando, mas naquela época as mulheres não eram aceitas na Sociedade e Terezinha teve que esperar para poder virar consócia. Naquela época o futuro esposo de Terezinha, confrade Francisco de Paula de Melo, já frequentava a Conferência.
Terezinha e Francisco, quando namoravam, iam juntos ao culto dominical de domingo. “Eu não era namoradeira, sabe? Mas sempre procurei alguém igual a ele, com caráter, religioso. Sempre pedi isso para Deus. Aprendi a rezar com meu pai e pedia isso para Deus e Deus me deu o meu marido”, conta com sua fala tranquila, pausada e firme.
Eles se casaram em 1959 e, em 1980, se mudaram para Ipatinga, também em Minas Gerais. O casal teve 12 filhos (César e Célia, Vander e Vanir, Gilmar e Gilvan, Deni e Dalvoni, Clodoaldo e Clodinei, Urias e Urielton), todos criados seguindo os preceitos da Igreja e frequentando a SSVP. Atualmente seis deles seguem firmes na Sociedade, entre eles, nosso Coordenador da Ecafo.
Em 1982, dona Terezinha conseguiu realizar seu desejo de se tornar consócia e começou a participar da Conferência Divino Espírito Santo em Ipatinga/MG. E a partir daí a história da família se confunde e se funde à história da SSVP na cidade.
“Meu marido ia para a Conferência Divino Espírito Santo e levava os filhos e netos que já tínhamos. Brincamos que poderíamos mudar o nome da Conferência para Melo, porque a grande maioria é composta pela família. Atualmente só dois casais não são da família na Conferência”, se diverte dona Terezinha.
Ela conta que criar os filhos dentro da Sociedade foi muito fácil e praticamente orgânico. “Naquela época não tinha TV, celular. Morávamos na roça e todo muito foi criado presando pelas coisas naturais, como alimentos e remédios. Eles foram criados dentro da religião. Meu pai era muito simples, mas tinha muita fé. Era um rezador e fiz questão de ensinar isso para os meus filhos. Nós tínhamos problemas, como muitas famílias têm. Um dos filhos pediu mais atenção, mas sempre pedíamos muito a Deus para ajudar. E Ele nos ajudou e muito. Eles sempre respeitaram os pais, aprenderam o amor ao próximo. A nossa luta toda valeu à pena, porque Deus estava sempre conosco”, lembra a consócia.
Dona Terezinha repetiu com os filhos a educação religiosa que recebeu do pai. “A gente sempre rezava o terço e outras orações quando criança. Meu pai fazia questão de rezar o Pai Nosso e a Ave Maria antes das refeições e fizemos isso com nossos filhos até quando foi possível, porque chegou uma hora que eles foram trabalhar e não fazíamos mas as refeições todos juntos. A família pode ser muito bem de vida, concentrada, mas se não tiver a religião, não vai para frente. Sozinho a gente não dá conta”
O casal tem vários netos e netas que participam atualmente da SSVP: Larissa, Lavínia, Henrique, Gustavo, Francislaine e Flaviane (estas duas são filhas do confrade César). A neta Larissa já deu um bisneto ao casal Melo. O pequeno Rafael, de nove meses, já acompanha a mãe nas reuniões, fazendo assim com que a quinta geração da família Melo participe da SSVP. “A Larissa já leva ele, que fica com a gente nos encontros e passa de colo em colo. Seu nome já está no livro da Conferência, como visitante. Vai ser minha maior alegria ver ele e os outros bisnetos que vierem como vicentinos”, afirma. A neta Francislaine e confrade Flavio também já deram um bisneto ao casal, Miguel que desde a gestação nunca faltou de uma reunião, pois sua mãe é uma consócia assídua. Também sua bisneta Maria Clara de sete anos (esta é neta do confrade César) já frequenta a conferencia. Além dos netos e bisnetos participam também noras e filhos de dona Terezinha.
Hoje o pai do confrade César, seu Francisco tem 87 anos e alguns problemas de saúde que não lhe permitem ir às reuniões. “Mas ele segue firme e forte na vocação vicentina. Fazemos algumas reuniões em casa, para ele poder participar. Para cuidar dele, também não consigo estar tão presente, mas não deixo de fazer as obrigações. O amor da nossa família é tão grande, que hoje os filhos se revezam à noite para não deixar o pai sozinho. Eles não o abandonaram, como vemos muito por aí, e sei que muito disso veio da Sociedade”, afirma a matriarca dos Melo.
Sobre a consolidação da família dentro da fé e nos passos de Ozanam, dona Terezinha é muito certeira ao afirmar: “Sou muito feliz de sermos uma família vicentina. Crescer dentro da SSVP significa incentivar a fazer o bem, se desviar do caminho errado, ganhar confiança, ver a vida com outros olhos. Um jovem quando participa da SSVP é, inclusive, melhor visto na comunidade. Faço meu máximo para que todos permaneçam na Sociedade e eles sabem a sua importância em nossas vidas. Sinto que é um dever da gente buscar fazer o melhor. E é isso que fazemos na Igreja e na SSVP”, finaliza dona Terezinha, garantindo que se tivesse que voltar no tempo, faria tudo exatamente igual por sua família.
Nossa terceira família é a Peloggia, lá de Taubaté, no interior de São Paulo. Para conhecer a história dessa família conversamos com a consócia Olga Césare Pellogia, de 83 anos. Sua entrada nos vicentinos se deu por conta do marido, Amadeu, mas essa história começa com o pai dele, seu sogro, confrade José Peloggia, que já era vicentino na época em que a SSVP era exclusiva aos homens. Ele seguiu firme na Conferência até o final da sua vida, em 1976 e teve com a esposa Maria Magdalena nove filhos: Armando, Helena, Maria Antônia, Germano, Paulo, Celina, Amadeu, Álvaro e Roberto.
O casal encaminhou seus cinco filhos homens à Sociedade. Amadeu perseverou na vida vicentina e foi proclamado em 11 de fevereiro de 1951. Seu irmão Paulo também seguiu na vida vicentina e frequentou até seus últimos dias a Conferência São Paulo.
O tempo foi passando e Amadeu conheceu Olga, em 1954. Ela o acompanhava nas visitas aos Pobres, mesmo sem ser vicentina. “Nos casamos em 1958, continuei acompanhando meu marido e depois do nascimento de meus filhos, fui proclamada em 23 de junho de 1967”, lembra a consócia.
Poucos antes de ser proclamada, em 17 de junho, Olga participou com sua mãe, Rosa, e sua filha Rosa Maria, de quatro anos, da fundação da então Conferência feminina São José Operário. Hoje frequentam a Conferência de São Pedro, ao lado da família.
Olga e Amadeu tiveram quatro filhos: Amadeu Filho, Antônio Carlos, Vicente Benedito e Rosa Maria. “Meus filhos sempre participaram da Igreja. Iam à missa, faziam teatro, cantavam, tocavam. O Amadeu com três anos acompanhava o pai na Conferência e depois, os outros foram crescendo e indo junto. Nasceram vicentinos”, brinca Olga, ao contar que três dos quatro filhos seguem firmes na SSVP, participando ativamente.
Dos filhos vieram os netos de Olga e Amadeu. Oito ao todo: Juliana, Stefanie, Ruan, Natália, Vitor, Mateus, Luiza, José Luca. Deles, Ruan, Vitor, Mateus e Luiza já são confrades e consócia. Ou seja, na Família Peloggia já temos quatro gerações na SSVP.
Pela parte da família de Amadeu, além da sogra, esposa e filhos, também participam da Conferência São Pedro, os cunhados Odilon e Orlando. Outra curiosidade dessa família é que todos os filhos e filhas se casaram com vicentinos das Conferências que participavam e depois levaram seus filhos também para a SSVP.
A família toda, a começar por Amadeu pai, Olga, até sogra, filho, genro e nora já passaram por cargos dentro das estruturas da SSVP. Amadeu pai foi presidente de Conselho Particular e do Conselho Central de Taubaté por duas gestões; Olga foi presidente do Conselho Particular por duas gestões também; Amadeu Filho presidiu Conselho Particular, Obra Unida, Conselho Central e agora o Metropolitano de São José dos Campos/SP; Vicente foi presidente do Conselho Central e agora preside Conselho particular; o genro Márcio foi presidente de Conselhos Particular e Central; Rosa é presidente de Conferência; a nora Soraia foi secretária de Conselhos Particular, Central e Metropolitano e agora preside Conferência e os netos Vitor e Luiza já estão reativando uma Conferência de Jovens! Isso que é família unida em prol da SSVP.
Sobre a formação da família nas bases da Igreja, Olga é taxativa ao dizer que este é o melhor caminho. “Foi Deus que orientou. Deu muito certo. Meus filhos nunca me deram trabalho, Foi Deus quem os criou, na verdade. O fato de terem crescido aprendendo a caridade na SSVP fez eles terem uma visão diferente da vida. Eles são preparados para o mundo. Sou muito feliz em ter criado minha família na SSVP. Amo ser vicentina. Agradeço a Deus, Ozanam, São Vicente e Nossa Senhora por sermos vicentinos”, diz a matriarca.