Confrades vicentinos dizem “Sim” ao chamado e são ordenados padres

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2024

O chamado de Deus pode acontecer de diversas formas. Para compreender, é necessário ter discernimento vocacional para escutar atentamente o que é dito e dizer “Sim” à convocação divina. Foi essa reflexão que levou os ex-confrades, agora padres, Robert José Ribeiro, Matheus Torres e Cristian Cassiano Macedo, a dizerem “Sim” à ordenação pela qual passaram em dezembro. 

Todos do Conselho Metropolitano de São José dos Campos, São Paulo, eles conversaram com a SSVP Brasil e contaram um pouco de como foi  o processo da ordenação e como a vocação foi desperta dentro deles. Confira.

“Sua graça me basta”

Matheus Torres da Silva, 28 anos, de São José dos Campos/SP, foi ordenado no dia 9 de dezembro. Aspirante a vicentino desde criança, começou a frequentar as Conferências, com os irmãos aos 8 anos e entrou oficialmente aos 10 anos. “Fui declarado e proclamado em 2008”, relembra o padre. 

Na sua trajetória dentro da SSVP, Matheus atuou em diversas áreas. Foi catequista, ajudou na liturgia, desempenhou outros serviços dentro da igreja, mas o principal era os vicentinos. “Comecei participando da Conferência Nossa Senhora de Fátima, uma Conferência de jovens, mas depois eu fui para a CCA, na Conferência São Domingo Sávio. Lá eu cresci muito, passei por todas as funções que tem em uma Conferência, até orientador, quando estava um pouco mais velho. Nesse tempo, também me envolvi com as instâncias superiores da SSVP, como o Conselho Particular do Jardim Oriente, que pertence ao Conselho Central Sul de São  José dos Campos. Lá desenvolvi algumas funções, entre elas a Comissão de Jovens e também ajudava na diretoria. Cheguei a ser coordenador de jovens no Central Sul. Me envolvi em muitas atividades e fiz muitos contatos com outros coordenadores e presidentes dos Centrais”, elenca o novo sacerdote. 

Matheus lembra o quanto os vicentinos o ajudaram, tanto no seu desenvolvimento pessoal como espiritual: “as visitas e a Campanha do Quilo fizeram toda a diferença na minha vida. Eu era uma pessoa completamente tímida, muito envergonhado e foram os vicentinos que me ajudaram a perder a minha timidez, através do contato com as pessoas, me ajudaram a me desenvolver como pessoa, e também os valores cristãos. Tudo começou na base da Conferência, em encontrar Jesus no Pobre, até chegar nas funções mais altas”, conta o padre.

O religioso deixou suas funções na Sociedade em 2014 para entrar para o seminário. “O chamado me veio um dia, quando o Padre Messias rezava uma missa na minha paróquia de origem, a Nossa Senhora de Fátima. Eu fazia muitas coisas nos vicentinos, mas eu sentia que faltava algo a mais, que precisava fazer mais e, durante essa missa, estava passando o data show, quando senti, bateu uma vontade muito forte e comecei a me questionar, ‘será que é isso’, ‘é isso que Deus quer de mim?’, ‘o Senhor quer que eu seja padre?’. E foi a partir daí que comecei a pensar bem claro sobre minha vontade de ser padre”, relembra Matheus. 

A sua trajetória dentro da SSVP, com certeza, foi um divisor de águas que fez Matheus amar cada vez mais a Igreja e a Deus. O sacerdote tinha a vontade de se doar ainda mais, se envolver com os serviços aos Pobres e os vicentinos proporcionaram essa experiência. 

“Não espero ser um padre essencialmente vicentino, mas o amor pelo Pobre, pela Igreja já está incluído e eu espero continuar essa trajetória, nunca esquecendo minha origem e os valores que aprendi na SSVP”, enfatiza.  Matheus é um padre diocesano, responsável por uma diocese e pela comunidade a que for confiado.

“Para ser padre diocesano tem os encontros vocacionais, de mais ou menos um ano para refletir o que quer da vida, em seguida um acompanhamento com padre, psicólogo e uma avaliação para saber se você tem condição para entrar para um seminário. Depois você passa por nove anos de preparação, oito de estudos e um ano pastoral, o ano da ordenação”, relembra o Padre.

Como lema da sua vocação, Matheus escolher a passagem 2 Coríntios 12:8-9, “a sua graça me basta”. “Minha primeira missa foi na minha igreja de origem, onde fui ordenado e, a segunda, foi durante a Festa Regulamentar da Imaculada Conceição, na sede dos vicentinos na Central Sul. Foi um momento especial, onde revivi muitas lembranças  e como me desenvolvi como um bom cristão”, conta Matheus. 

Uma vez vicentino, sempre vicentino

Ordenado no dia 16 de dezembro, o irmão Cristian Cassiano de Macedo sempre foi participativo dentro da comunidade. “Antes da ordenação participei de dois movimentos da Igreja, a SSVP, com a Conferência São Domingos Sávio e a Renovação Carismática Católica. Atuei também em missões no norte e nordeste do país, uma delas com povos indígenas”, relembra o mais novo padre.

Cristian foi ordenado na Paróquia Maria Auxiliadora dos Cristãos, no Parque Meia Lua, em Jacareí/SP. “Com certeza a Sociedade de São Vicente de Paulo teve uma grande influência no meu chamado. O fato de levar alimento espiritual e material aos assistidos de nossas Conferências despertou, ainda mais, o amor a Deus e em atender os irmãos mais necessitados”, conta Cristian.

Ele conta que a decisão em seguir a vocação veio, em primeiro, para atender ao chamado de Deus e, em seguida, o desejo de ser fiel a esse chamado. “Após a ordenação, pretendo servir toda a igreja, mas sem esquecer que sou vicentino, pois, uma vez vicentino, sempre vicentino”, enfatiza.

O padre também relembra o processo para a sua ordenação: “primeiro você é aprovado para entrar no seminário. O primeiro ano é chamado de propedêutico. Depois desse ano, acontece o ingresso na faculdade de filosofia por três anos. Em seguida, mais quatro anos de teologia e, durante esse processo, se recebe os ministérios menores, como o extraordinário da Eucaristia, a Benção, as Exéquias, o Leitorato e o Acolitato. Depois, com a aprovação do Conselho Presbiteral e do Bisco, recebe-se o Diaconato, onde se exerce esse ministério por cerca de seis meses, para depois, ir para o Presbiterado”, elenca o mais novo ordenado. 

O caminho vocacional do Sacerdote vicentino

Segundo o Diácono Túlio Medeiros, padre lazarista da Província do Rio de Janeiro, ao longo do tempo, muitos confrades vicentinos, espalhados em diversas regiões do país, dão uma resposta mais radical a sua vocação vicentina, desejando consagrar-se como missionário vicentino na Congregação da Missão. Mas até chegar de fato a essa consagração, o seminarista passar por uma formação inicial, que irá prepará-lo para assumir a vocação sacerdotal.  

“O jovem, quando chega ao Seminário, inicia os seus estudos que se dividirão em duas fases iniciais: a primeira é denominada ‘fase de orientação’, atualmente com duração de um ano, onde os jovens terão a oportunidade de ‘fortalecer seu compromisso batismal e discernir com maior profundidade sua vocação à vida vicentina’ (Ratio Formationis, 2016, p. 62). A segunda fase é denominada ‘fase de associação’. Aqui, iniciam-se os estudos de filosofia. Ao término dessa segunda fase, o candidato deve estar preparado para tomar uma decisão sobre o seu ingresso no Seminário Interno.”, explica o diácono.

Após concluídas as duas fases iniciais da formação,  o jovem decide se dará continuidade aos seus estudos, ingressando no Seminário Interno. O objetivo é “dotar o seminarista de fundamentos firmes para viver a vida de missionário vicentino” (Ratio Formationis, 2016, p. 83), seguindo Cristo evangelizador dos Pobres. 

“Concluída a etapa do Seminário Interno, o seminarista segue para a etapa da formação no Seminário Maior. O objetivo aqui é ‘dotar o vicentino com a espiritualidade, o conhecimento teológico, a competência apostólica e a identidade ministerial de que precisa para servir de maneira efetiva como Sacerdote da Missão’ (Ratio Formationis, 2016, p. 141)”, explica Túlio.

O passo seguinte ao término da Seminário Maior é a emissão dos votos (Irmãos), que constituem o instrumento de consagração total e definitiva como religioso na Congregação da Missão e, para quem recebeu o chamado ao ministério ordenado, o recebimento da ordenação (diaconal e presbiteral). 

Assim, o missionário vicentino terá completado sua formação inicial, estando apto para se dedicar plenamente à missão, passando à etapa denominada formação permanente, que  “se refere a todo o sistema de relações e programas que ajudam o missionário adulto nos campos humano, espiritual, intelectual, apostólico e comunitário, […] fomentando perspectivas vicentinas” (Ratio Formationis, 2016, p. 165). 

“É importante ressaltar que o processo formativo, anteriormente descrito, não é uma ‘corrida de obstáculos’, onde o seminarista deve competir para passar de uma etapa a outra.  Refere-se, antes, a um processo mistagógico, de discernimento sobre a vocação à qual foi chamado”, explica Túlio. 

Concluindo, a vocação do sacerdote vicentino nasce, certamente, no coração de uma família piedosa e se aprofunda em um valioso processo de discernimento, no qual o missionário é chamado para agir com as mesmas disposições de Jesus Cristo evangelizador, sendo pastor e pai espiritual para todos sob sua responsabilidade.

Para isso, deve agir cheio de caridade pastoral, buscando ser sinal de unidade e zelar para a edificação e crescimento do rebanho a ele confiado, tornando mais eficaz o anúncio do Reino de Deus, em como a prática e a vivência do Evangelho pregado por Jesus Cristo. “Peçamos a intercessão de São Vicente de Paulo para que surjam, na Igreja, mais numerosas, boas e santas vocações sacerdotais. ‘A messe é grande e os operários são poucos.’”, finaliza o Diácono.

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