Deus é sempre surpreendente! Ele sempre nos revela coisas novas, que não fazem parte do roteiro planejado pelos homens. Jamais imaginaríamos que Deus, um dia, encarnar-se-ia à carne humana e viesse morar entre nós, e que uma mulher ficaria grávida de Deus e que esse Deus nascesse pobrezinho, numa gruta de Belém, entre animais, numa manjedoura; muito menos, imaginaríamos Deus morrendo numa cruz. Pois é, assim é o Deus revelado por Jesus de Nazaré, o Cristo!
Com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor iniciamos a semana popularmente conhecida como a semana dos dias longos, a grande semana, para nós, cristãos, em que celebramos o grande mistério de nossa fé: paixão, morte e ressurreição do Senhor. Somos convidados a seguir Jesus, passo a passo, no caminho da Cruz, para passarmos da loucura para a salvação. A semana aberta pelo Domingo de Ramos é o cume de tudo que Jesus viveu, ou seja, o mistério da paixão, morte e ressurreição que celebraremos é consequência da Missão que Ele assumiu fiel e radicalmente quando anunciou, na sinagoga de Nazaré, seu projeto de vida e seu programa apostólico (Lc 4,18-21).
Somente a fé no Senhor pode nos salvar daquela decepção que assaltou o coração de tantos israelitas que testemunharam aquele fato histórico. Como qualquer outro povo que nutre em sua cultura o mito de ver seus chefes em grandes trajes, em grandes festas e imponentes, Israel também trazia isso em sua memória. O Messias almejado pelas expectativas do povo – poderoso, glorioso e triunfante – era bem diferente daquele jovem galileu que entrou em Jerusalém montado num jumentinho, com vestes simples e sorriso cativante. O Messias que adentrou as portas da cidade santa foi o jovem que convivia com pecadores, frequentava casamentos, acolhia e perdoava os desencaminhados da vida, tocava em leprosos, coxos e cegos, fazia refeições com cobradores de impostos e conversava com samaritanos. Era o Messias despido de glória e vestido da fragilidade da condição humana, a qual Ele viveu intensamente que de “tão humano que era só podia ser divino”.
Diferentemente do que muitos acham e pensam, o que faz a grandeza de Jesus não é o sofrimento pelo qual ele passou na cruz, no caminho para o calvário, mas o que Ele fez e viveu na nossa história, tal qual ela é, sem se furtar a nenhuma das vicissitudes que ela está submetida, isto é, Jesus não se escondeu da vida.
Sem dúvidas, é pela certeza de sua humanidade divina que não temos dúvidas do sofrimento e do peso da cruz que Ele carregou para resgatar cada um de nós. Seu grito naquele madeiro sofrido é o grito doloroso de todo irmão crucificado na vida pela injustiça, do mundo violentado pelas guerras e da terra dilacerada pela ganância. Seu exemplo de humilhação até a morte na cruz é uma lição para nós, de modo que, ensinados por sua paixão, possamos ressuscitar com Ele, pois a morte não terá, jamais, a derradeira palavra. Como nos afirma o teólogo: “o Senhor quer nos dizer, hoje, que carregar a cruz não é um ato dolorista, é um ato de entrega da sua existência”. Cônscios de nossas cruzes a serem assumidas e carregadas, tenhamos também em nosso coração a mesma confiança revelada por Ele naquela passagem: “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito”, pois, com Ele ressuscitaremos no terceiro dia. Amém!!!