Comemorado nesta quinta-feira, 4, o Dia do Padre celebra todos os sacerdotes que dedicam suas vidas evangelizando e levando a palavra de Deus ao próximo. Para homenagear a todos que usam a batina, a SSVP Brasil convidou o padre Emanoel Bedê, assessor espiritual do Conselho Nacional do Brasil (CNB), para refletir sobre a data. Confira na íntegra!
Dia do Padre – por Padre Emanoel Bedê
Tradicionalmente agosto é o mês vocacional. Durante esse tempo, especialmente nas liturgias dominicais, conforme o costume da Igreja no Brasil, procura-se enfatizar nas celebrações a reflexão sobre as diferentes vocações dos cristãos em seus mais diversos desdobramentos e aspectos.
Vocação, em sua raiz etimológica, quer dizer chamado, e o primeiro chamado que o ser humano recebe é o chamado à vida. Todos somos convidados a buscar o sentido mais profundo para essa graça que o Senhor nos concede, como nos diz o profeta Jeremias: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia” (Jr1,5).
Num viés religioso, desejamos destacar nesta reflexão a vocação sacerdotal e seu sentido teológico na Igreja. O “Dia do Padre” é celebrado no dia da memória litúrgica de São João Maria Vianey, 4 de agosto. Sua biografia conta que o santo foi simples e humilde, com muitas limitações intelectuais, o que não o impediu de exercer e realizar com plenitude o sentido mais profundo de sua vocação sacerdotal, ou seja, viver a serviço do Povo de Deus na pequena vila de Ars, na França.
Devido aos seus grandes dons espirituais, muitos procuravam João para se confessar e se aconselhar, tornando-se modelo e inspiração para todos os sacerdotes que procuram viver plena e sinceramente seu chamado vocacional no ministério sacerdotal.
A palavra sacerdote é a combinação de sacer (sagrado) e dhtos (fazer), portanto, etimologicamente significa “aquele que realiza cerimônias sagradas”, isto é, uma pessoa consagrada e enviada por Deus. Um homem escolhido por Cristo, por isso, deve tê-lo como mestre e modelo para sua vida.
Sendo assim, a iniciativa é sempre de Deus como aquele que chama, consagra e envia: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça” (Jo 15,16). A vocação é uma questão de fé, chamado de Deus que supõe uma resposta, em vista de uma missão, no seguimento do Bom Pastor. São Vicente de Paulo ajuda a entender melhor este mistério de fé. Assim diz ele, “pertence somente a Deus escolher os que ele quer chamar e estamos seguros de que um missionário dado por sua mão paternal fará sozinho melhor do que muitos outros que não tenham uma vocação pura”.
Nessa perspectiva, sendo portador de uma vocação genuína, o padre não pode jamais reduzir seu ministério a apenas ao desempenho técnico-funcional e profissional de um trabalho, ele é um pastor que vai atrás daqueles que se perderam na caminhada e se extraviaram, dirige-se aos que ficaram à margem do caminho, trazendo de volta, para o redil do Senhor, a ovelha perdida (Lc 15,3-7). Espera-se que o sacerdote sempre exerça seu ministério com amor, dedicação, fidelidade e verdadeira entrega a Deus pela consagração, tendo como horizonte ministerial a amor pelo Povo de Deus que lhe foi confiado, pois dele se espera que “viva em Cristo, por Cristo e com Cristo a serviço da humanidade”.
Mas, não esqueçamos que por trás do padre há um homem, a pessoa humana, cheia de limites e defeitos e que, por isso, precisa sempre dos cuidados e orações do Povo santo e pecador, ou melhor, que só por graça conseguirá ser sacramento do Bom Pastor, Cristo, o Missionário dos Pobres. Sobre este aspecto, com realismo e autoridade de vida, nos fala São Vicente de Paulo, “Deus conhece bastante nossas misérias, tem compaixão delas e, por sua misericórdia, supre nossas deficiências. É preciso proceder com ele com toda simplicidade, sem nos afadigarmos tanto. Sua bondade e misericórdia preencherão o que nos faltar”.
Finalizamos nossa breve reflexão com uma oração para trazer todos os padres que se dedicam na missão de dilatar o reinado de Deus no mundo:
O PADRE EM PRECE
– sob o olhar de Deus –
PAI SANTO
No silêncio de tua ternura que chama,
Inflama-me o coração,
para que me deixe seduzir pelo fascínio
de fundar Comunidades em Jesus Cristo,
– sinais do teu Reino.
Fecunda minha consagração
no ministério de ser padre, a fim de que,
especialista em humanidade,
falando francamente ao interior das pessoas,
eu seja feliz operário da misericórdia,
da justiça e da paz.
Inspira-me a brisa do teu Santo Espírito,
e concede-me força e sabedoria
de ser vértice do diálogo
entre o Mundo e o Mistério da tua presença.
AMÉM.”