Em homenagem ao dia de São Vicente de Paulo, a SSVP Brasil convidou o padre Emanoel Bedê, assessor espiritual do Conselho Nacional do Brasil (CNB) e o diácono, Túlio Medeiros da Silva, da Congregação da Missão, para resgatar a história do santo e relembrar o trajeto até aqui. Confira:
Celebramos, no dia 27 de setembro, a memória litúrgica de São Vicente de Paulo, o padroeiro de todas as Associações católicas de caridade. Vicente nasceu em Pouy, França, em 1581, em uma família de camponeses. Quando criança, ajudava a família no pastoreio dos poucos animais que possuíam, mas logo seus pais perceberam que Vicente levava jeito para os estudos.
Em Dax, ainda na França, começou a estudar no colégio dos Franciscanos. Logo se destacou, chamando a atenção do Sr. de Comet, um advogado da região que o contratou para ser professor dos seus filhos. Em 1597, concluiu os estudos teológicos em Toulouse, na França. Deixando-se tomar pelo orgulho, o jovem Vicente chega a sentir vergonha da vida simples que levavam seus pais.
Aos 20 anos é ordenado padre e, nos primeiros anos do seu ministério, Vicente ponderou conquistar uma boa paróquia que lhe proporcionasse bons frutos financeiros. Com isso ele pretendia ter uma vida estável e ajudar a sua família. Mas os planos de Deus para o jovem padre eram outros.
O tempo vai passando e nada de Vicente de Paulo conseguir atingir os seus objetivos. Somente após o triste episódio em que fora acusado de roubar o dinheiro de um amigo com quem morava é que Vicente começa a se cansar de correr atrás das riquezas que o mundo oferecia, descobrindo o que Deus planejava para ele: de mestre dos ricos a pároco dos pobres. Eis o caminho de conversão trilhado pelo santo.
Vicente, então, é tomado por um fogo abrasador: o mesmo fogo que ardia no coração de Cristo arde no coração de Vicente de Paulo, que começa a viver de todo o coração estas palavras de Jesus: “todas às vezes que fizestes isso a um destes pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40).
Em janeiro de 1617, Vicente é chamado para atender em confissão um homem enfermo, que era tido como uma pessoa de bem naquela região. Ao final da confissão, a surpresa, o homem confessa seu terrível estado de vida. Esse fato impressionou grandemente a senhora de Gondi e o próprio Vicente: “se esse homem, tido por justo e pessoa de bem, se encontra em tão deplorável estado, que dizer dos demais?” (GROSSI, 2001, p. 20).
Foi então que, no dia 25 de janeiro de 1617, dia da conversão de São Paulo, Vicente faz uma pregação na Igreja de Folleville, na França, encorajando os fiéis à confissão geral. O padre Vicente foi tão abençoado em suas palavras, que todos os moradores daquela região vinham fazer a sua confissão geral, ao ponto de ter o padre Vicente de recorrer à ajuda dos Reverendos Padres Jesuítas de Amiens.
Em agosto de 1617, estando agora numa Paróquia em Châtillon-le-Dombes, França, Vicente tem outra experiência muito forte com a prática da caridade. Ao ser comunicado que uma família inteira se encontrava enferma, não tendo ninguém que pudesse cuidar, Vicente exorta aos fiéis para a necessidade de se organizarem no cuidado da dita família. Os fiéis, prontamente, começam a socorrer os que se encontravam enfermos. Porém, Vicente percebe que era necessário organizar a caridade, caso contrário, toda aquela ajuda inicial poderia se perder e, com o tempo, aqueles que estavam necessitados ficariam novamente desamparados. Nasce aí a primeira fundação de São Vicente, as Confrarias de Caridade, hoje conhecidas como Associação Internacional de Caridades (AIC).
Passados oito anos da primeira fundação, nasce, em abril de 1625, a Pequena Companhia, uma Sociedade de Vida Apostólica que tem por objetivo a evangelização dos pobres e a formação do clero e dos leigos. A Congregação da Missão, como também é conhecida, está organizada em três Províncias aqui no Brasil: a Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM), com sede no Rio de Janeiro/RJ, a Província do Sul (CMPS), com sede em Curitiba/PR, e a Província de Fortaleza (PFCM), com sede em Fortaleza/CE.
Em novembro de 1633, com Luísa de Marillac, Vicente funda a Companhia das Filhas da Caridade. As irmãs inauguram um estilo de vida para a Vida Consagrada feminina, vivendo no meio do povo, visitando e cuidando dos pobres. Era um modelo de vida religiosa nunca visto naquela época, mas que Vicente e Luísa definiram como essencial para aquelas moças que desejavam consagrar-se ao serviço dos pobres.
Dois séculos depois de São Vicente iniciar suas instituições com o carisma de cuidar dos mais pobres, outros homens e mulheres foram deixando-se modelar por ele. É o caso do beato Antônio Frederico Ozanam e de seus companheiros, que fundaram a Sociedade de São Vicente de Paulo, uma organização civil de leigos dedicada ao serviço da caridade em diversos espaços, como creches, escolas, lares de idosos e diversos projetos sociais. Isso mostra o quanto a Família Vicentina cresceu e tem produzido frutos há mais de quatrocentos anos, bem como, a responsabilidade que temos em dar continuidade ao legado que herdamos de São Vicente de Paulo.
Essa breve abordagem da vida e obras de Vicente de Paulo, chamado, com justiça, o Grande Santo do Grande Século, cuja festa hoje celebramos, tem o objetivo de apresentar, de maneira muito tímida, o enorme legado por ele deixado. A vida e o trabalho de São Vicente de Paulo dão testemunho de quem foi esse homem e qual o seu papel para a Igreja Católica da França e do Mundo. É preciso aprofundar-se ainda mais; só assim perceberemos de fato o quanto ele foi importante. Neste dia festivo para toda a Família Vicentina, peçamos a sua intercessão para continuarmos com coragem e ousadia o trabalho de evangelização e promoção dos mais pobres, nossos queridos Mestres e Senhores. São Vicente de Paulo, rogai por nós!