O dia 1º de novembro marca o Dia de Todos os Santos, data que homenageia todos os santos e mártires. No Brasil, a celebração acontece no domingo após a data, quando este não cai no dia 2 de novembro, finados. Para refletir sobre o Dia de Todos os Santos, a SSVP Brasil convidou o Padre Emanoel Bedê, Assessor Espiritual do CNB, para falar sobre a celebração. Confira!
“Bem-aventurados os corações puros,
porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os que constroem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos
por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos céus”. (Mt 5,8-10)
“Segundo o Magistério da Igreja, “todos na Igreja são chamados à santidade” (LG 39) e nada mais oportuno do que refletir sobre essa vocação no dia em que se faz memória de todos os santos, aqueles que já habitam “a cidade do céu, a Jerusalém do alto” e prefiguram a nossa esperança, pois “neles já se cumpriu aquilo que, para nós, ainda não se realizou”.
Com efeito, essa compreensão, perenemente resgatada pela Tradição da Igreja, pela reflexão teológica de grandes mestres da espiritualidade cristã e pelo Magistério, é bem recente na vida prática do cristão católico comum. Durante muito tempo, a santidade, sempre atribuída exclusivamente a Deus, pois só Ele é Santo, foi entendida e divulgada como um ideal inalcançável e inatingível, visto que “Deus é o ‘Outro’, tão transcendente e tão longínquo que o homem não pode pensar em participar”, como privilégio dos monges e eremitas, dos sacerdotes e freiras, das pessoas que optavam pelo vida religiosa e ingresso na vida sacerdotal.
Graças a homens como São Francisco de Sales, São Vicente de Paulo, entre outros tantos de seu tempo, a genuína compreensão de santidade foi sendo recuperada e apresentada ao homem comum, dos tempos de hoje, como propósito e projeto de vida a ser buscado, vivido e alcançado por todos, pois é o desejo de Deus: “Sede Santos como o vosso Pai, que está nos céus, é Santo”.
Nesta perspectiva, a vocação à santidade não se alcança por práticas legais e moralistas, em estilo farisaico, mas por “pureza de coração”, por professar sua fé num Deus que caminha conosco, que é o Deus conosco, que veio morar conosco e se misturar conosco. Dessa forma, a santidade cristã manifesta-se, pois, como participação na vida de Deus, que se realiza com os meios que a Igreja nos oferece, particularmente, com os sacramentos. Somente um Deus acolhido na perspectiva dessa compreensão é capaz de comunicar sua santidade ao ser humano. Destarte, para nós cristãos, Jesus Cristo, tornado Senhor, é a verdade, a vida e o caminho para a santidade e nos propõe como projeto de santidade o conhecido “sermão da montanha”, ou melhor, as bem-aventuranças.
As bem-aventuranças, por serem um autorretrato de Nosso Senhor, uma fotografia fiel daquilo que Jesus viveu e praticou, tornam-se para o cristão um projeto e propósito de santidade. Isso porque ‘a santidade não é o fruto do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças, e até com heroísmo; ela é dom do amor de Deus e resposta do homem à iniciativa divina’.
Para nós, vicentinos, chamados a trilhar as veredas e horizontes dos muitos santos e bem-aventurados que nos precederam na seara do serviço aos Pobres, o caminho para traduzir e viver o ideal das bem-aventuranças a nós proposto por Nosso Senhor, a tradição vicentina nos brinda com a caminho das virtudes propostas por São Vicente de Paulo, a começar pela Simplicidade, que, segundo ele “é a virtude que mais aprecio e na qual ponho mais atenção em meu proceder”. É a virtude que nos aproxima de Deus, pois Ele é simples e aprecia as coisas simples. Em seguida, temos a Humildade, esta é a virtude que nos faz ter um sincero juízo de nós mesmos, “aquela que nos torna capaz de reconhecer e admitir nossas fraquezas e limitações, confiando, desta forma, mais em Deus”. Para o santo, “é a virtude de Jesus Cristo, a virtude de sua santa Mãe, a virtude dos maiores santos, e finalmente é a virtude dos missionários”. Já a Mansidão é a virtude que nos ajuda a relacionar-se com as pessoas, nos ajuda a ser suave e doce, a saber adicionar uma gota de vinagre na doçura do espírito. A Mortificação, na perspectiva vicentina, significa renunciar-se a si mesmo e aceitar morrer para aquilo que nos impede de progredir no ideal das bem-aventuranças. Por fim, temos ao Zelo (apostólico) que nada mais é do que a dedicação ao trabalho com os Pobres; hoje chamaríamos de cuidado com as coisas de Deus para que Ele cuide das nossas.
Portanto, caríssimo leitor, o ideal das virtudes vicentinas nos ajuda a entrar e viver a lógica das bem-aventuranças de Nosso Senhor, caminho assíduo dos inúmeros santos de nossa querida e amada Família Vicentina. Foi nessa fonte que eles beberam e nós, hoje, somos convidados a saciar nossa sede de santidade e apropriar dessa notável e pujante herança. “
“És glorificado em teus santos,
altíssimo e misericordioso Senhor de nossa vida e da história.
Ajuda-nos, com o exemplo deles e por sua intercessão,
a entregarmo-nos perdidamente a ti,
para celebrar nas obras e nos dias de nosso caminho
o resplendor de sua glória, na justiça e na santidade.
E faze com que, reconfortados na comunhão dos santos em ti,
possamos, também nós, construir a Igreja,
comunhão no único Santo, ligada às santas realidades da Palavra
e dos sinais sacramentais da vida, para nos doarmos uns aos outros,
no diálogo do serviço e da caridade, como comunhão viva de santos,
humilde ícone do eterno amor”.
Amém!