Caríssimo leitor (a), convido-o (a) a continuar nossa viagem pelas virtudes vicentinas. Veremos aqui como São Vicente entendia a virtude da HUMILDADE e como podemos vivê-la hoje. Para nosso amado Patrono, a HUMILDADE é a virtude de Jesus Cristo, que Ele nos ensina com palavras e exemplos, “esvaziou-se de si mesmo e assumiu a condição de servo… humilhou-se a si mesmo até a morte e morte de cruz” (Fil. 2,5-11).
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Pode-se achar estranho aos ouvidos de hoje o modo como São Vicente entendia a HUMILDADE: reconhecer nossa baixeza e nossas faltas, evitar os aplausos do mundo, considerar os outros mais dignos e importantes do que nós mesmos, confessar em público nossas faltas, aceitar as advertências… Isso tudo revela a mentalidade da época, uma visão negativa da condição humana, talvez por influência do “jansenismo”(ver nota de rodapé). Para São Vicente, HUMILDADE também é reconhecer nossa dependência da graça divina, pois todo bem procede de Deus. Para ele é a virtude dos santos, em especial, da Mãe de Nosso Senhor, é a arma com a qual se vence o diabo, pois o com ela se combate a vaidade, derrota o orgulho e se ganha o céu. Ao exortar os imãs e os padres, São Vicente nos lembra que a HUMILDADE é a origem de todo bem que possamos fazer e, segundo ele, Deus nos chama, a nós, gente humilde, para fazer grandes coisas e é com essa virtude que se persevera nos bons propósitos, pois é o fundamento da perfeição evangélica, a chave de toda a vida espiritual.
Em nosso tempo, ser humilde é reconhecer nossa interdependência, como nos diz o Papa Francisco, “ninguém se salva sozinho”, pois não nos salvamos pelas obras que fazemos, mas pelo dom de Deus através de Jesus Cristo. Ser humilde, a exemplo dos Pobres que muito nos ensinam, é ser grato por tudo que Deus realiza em nosso favor, é cantar com Maria: “A minha alma engradece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador!” A HUMILDADE supõe atitude de servo e ajuda a bem entender o exercício do poder e da autoridade; de fato, pode mais quem serve mais, quem é mais solidário. Enfim, a HUMILDADE supõe hoje o deixar-se evangelizar pelos Pobres, “nossos Mestres e Senhores”, matricular-se na sua escola. Assim seja!
Pe. Emanoel Bedê, C.M.
Gostaria que colocasse esta observação em nota de rodapé.
O jansenismo é uma doutrina religiosa inspirada nas ideias de um bispo de Ypres, Cornelius Otto Jansenius, que foi muito divulgada nos séculos XVII. Com fortes influências dos escritos de Santo Agostinho, o ponto central e essencial é uma antropologia pessimista, que vê no pecado original a corrupção da natureza humana, doravante incapaz de qualquer obra Humildade: a virtude da gratidão e fatalmente inclinada para o mal.