Padres dos caminhões-capela comentam realidade das rodovias

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Padre Miguel a bordo do caminhão-capela

 

Há três caminhões que têm trânsito livre garantido nas rodovias do país durante esta paralisação. Eles pertencem à Pastoral Rodoviária e são dirigidos por padres vicentinos – Miguel Staron, Arno Longo e Germano Nalepa, todos eles da Congregação da Missão (CM), ordem fundada por São Vicente de Paulo. Na boleia, eles transportam uma carga preciosa: a fé. A missão do trio é evangelizar caminhoneiros, celebrando e atendendo confissões em postos de gasolina.

A equipe de jornalismo do site SSVPBRASIL conseguiu fazer contato ontem com dois deles. Padre Miguel terminou o roteiro dele e retornou para a Casa Provincial em Curitiba (PR) nesse final de semana. Padre Arno está em Caicó (RN) e tem combustível suficiente para chegar ao destino dele, que a capital do Estado, Natal. Só não foi possível localizar o padre Germano, que possivelmente está em Mato Grosso. O telefone dele só dava fora de área.

Padres Miguel e Arno apoiam a paralisação no país. Embora pessoas de vidas consagradas, eles conhecem de muito perto os dramas dos caminhoneiros brasileiros, porque também são um deles. Os caminhões que dirigem se transformam em capelas para as celebrações destinadas ao povo da estrada. Eles passam a maior parte do ano nas rodovias e também sofrem com a falta de segurança e os elevados preços de combustíveis e pedágios. “Não quero que me interpretem mal, mas o caminhoneiro brasileiro hoje tem vida de vida de cachorro”, explica padre Arno: “igual a um cachorro, ele não tem nome, é chamado por assovio ou de motorista; igual a um cachorro, come restos de restaurante, porque sempre chega tarde para almoçar; igual a um cachorro, por falta de aporte nas rodovias, muitas vezes a privada é o pneu do caminhão; igual a um cachorro que mora em casa de lata, o motorista também mora na cabine do caminhão”.

Padre Arno Longo
Padre Arno Longo

Enquanto o padre Arno concedia esta entrevista, ao fundo era possível ouvir gritos. Os caminhoneiros comemoravam a chegada de doações de marmitas da comunidade local, após 9 dias de greve. Tempos depois, o som era do hino nacional. Os versos ‘Mas, se ergues da justiça a clava forte/Verás que um filho teu não foge à luta’ pareciam mais uma motivação para os caminhoneiros que resistem na paralisação.

“O cristão deve apoiar a paralisação porque é uma questão de justiça, valorização das pessoas e do direito do caminhoneiro ganhar o pão com honestidade” – padre Arno Longo

 A principal preocupação do padre Arno é quanto ao oportunismo. Há grupos se aproveitando da situação, inclusive, colocando próximo às manifestações placas relacionadas à intervenção militar. “Esta é uma questão que nos preocupa muito, porque os caminhoneiros não são massa de manobra. A luta não é para tirar o Governo, mas para tirar do Governo esta política de opressão”.

Padre Miguel também faz uma observação sobre este tema. “Muita gente está criticando o motivo dos caminhoneiros não reivindicarem a queda no valor da gasolina. A paralisação é em prol da luta deles. Por que a sociedade também não cria coragem e vai ‘bater panela’ por aí”, refere-se às manifestações que aconteceram ano passado, quando manifestantes batiam panelas dentro de casa. “O caminhoneiro não tem condições de resolver todos os problemas do país”.

Fonte: Redação do SSVPBRASIL

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