Dando sequência aos artigos sobre Le Prevost, trazemos hoje o terceiro artigo da série, escrito pelo Ir. Fábio Pereira Feitosa, S.V.
:: Jean-Léon Le Prévost: A Alma Caridosa por Trás da Sociedade de São Vicente de Paulo
A Sociedade de São Vicente de Paulo nasceu como Conferência de Caridade, resultado da inspiração de Antônio Frederico Ozanam e de mais seis amigos que, unidos, iniciaram um importante apostolado junto aos mais pobres. Quis a Providência que, naquele grupo, ingressasse Jean Léon Le Prevost, homem de 30 anos, natural da pequena Caudebec-en-Caux, na Normandia.
Le Prevost sentia o desejo de dar um sentido prático à sua fé. Para ele, não bastava crer; era preciso transformar a sua crença em ações concretas. Essa certeza o inquietava cada vez mais, e ele seguia buscando formas de concretizar sua fé em ações que fossem capazes de produzir frutos reais, pois sabia que a fé sem gestos concretos é morta, como escreveu São Tiago (cf. 2, 14-17).
Ao ingressar na Conferência de Caridade, Le Prevost finalmente conseguiu dar forma ao seu desejo, inicialmente visitando as famílias assistidas pelo grupo. Embora reconhecesse o valor de tais visitas, sentia em seu íntimo que elas não eram suficientes diante do sofrimento da população pobre de Paris. Diante dessa inquietação, ele criou um projeto de catequese para os jovens detentos da Casa de Correção da Rua des Grès. Este projeto logo foi abraçado pelos confrades Ozanam, Lamanche e Lavassor. Após certo tempo de convivência, os confrades perceberam que, além de catequizar, era preciso ensinar aqueles jovens a ler e a escrever. Esse novo e árduo desafio fazia parte de um programa de catequese integral.
A Sociedade de São Vicente de Paulo logo conquistou um número significativo de membros; diante desse aumento, surgiu a necessidade de dividi-la. Após vários momentos de reflexão, foi acertada, em 17 de fevereiro de 1835, a sua divisão em duas seções: Saint-Étienne-du-Mont e Saint-Sulpice, ficando a segunda sob os cuidados dos confrades Lavassor e Le Prevost.
Ao verificarmos o período em que Le Prevost ficou à frente da Conferência de Saint-Sulpice, podemos constatar que ele exerceu tal função com profundo sentimento de caridade, zelo e amor pelos mais pobres, o que rendeu um apostolado rico em criatividade e inovações caritativas, entre elas: o vestiário dos pobres, a biblioteca popular, a caixa de aluguéis e, sobretudo, a Santa Família. O conjunto dessas ações rendeu a esta Conferência o título de “Rainha das Conferências”.
A mais importante criação da Conferência de Saint-Sulpice foi a Santa Família. Tal iniciativa deve ser vista como o resultado direto das observações feitas por Le Prevost, utilizando as lentes do Espírito Santo. Le Prevost trazia consigo dois aspectos importantes e típicos dos santos: ele era um homem de contemplação, mas também um homem de ação. Foi associando essas duas características que ele percebeu que, embora a Sociedade de São Vicente de Paulo estivesse exercendo um importante papel de auxílio aos mais pobres, não possuía uma ação específica que contemplasse as famílias como um todo. Foi diante dessa observação que ele e seus confrades decidiram criar um espaço acolhedor e profundamente evangélico, no qual as famílias assistidas pela Sociedade pudessem se reunir e confraternizar. Mais que uma simples reunião dos assistidos, esses encontros eram também lugares propícios para a catequização das famílias.
Le Prevost percebeu a necessidade de que, no seio da SSVP, surgisse um grupo dedicado a tempo integral ao serviço dos excluídos. Assim, ele fundou, no dia 3 de março de 1845, o Instituto dos Irmãos de São Vicente de Paulo, hoje Religiosos de São Vicente de Paulo. Desde o início da fundação, estiveram com ele os confrades Maurice Maignen e Clément Myonnet. Le Prevost foi um homem que soube ouvir e interpretar os clamores dos tempos e, assim, fez de sua vida um verdadeiro ofertório a Deus e aos mais pobres.