A SSVP Brasil começou no início uma série de publicações a respeito do Ano Temático de Jean-León Le Prevost no Boletim Brasileiro. A matéria inicial falava sobre “Quem foi o confrade Jean-Leon Le Prevost?” e apresenta a trajetória de um dos principais fundadores da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Entre suas contribuições decisivas, Le Prévost foi uma figura que, apesar de momentos de afastamento da fé, se reencontrou com Deus por meio de boas amizades e se dedicou à caridade e ao próximo, ajudando a consolidar os pilares da Sociedade.
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O Retorno à Fé pela Graça das Boas Amizades
Aos 22 anos, após se mudar para Paris, Le Prévost se afastou completamente da prática da fé. Porém, pouco antes de 1830, ele fez amizade com jovens profundamente católicos, entre eles Victor Pavie, colega de faculdade de Frederico Ozanam, na Universidade de Sorbonne. Esse círculo de amizades foi essencial para que Le Prévost retomasse sua fé e seu caminho dentro da Igreja. Em uma carta a Pavie, ele escreveu: “Sim, diante de Deus, a amizade é verdadeiramente santa. Todo sentimento profundo, generoso, dedicado é um impulso para Deus”.
Entre 1830 e 1835, Le Prévost frequentou grupos leigos que debatiam a fé e buscavam soluções para a pobreza e injustiças da sociedade francesa. Nessas reuniões, realizadas aos domingos na casa do Conde de Montalembert, Le Prévost encontrou-se tanto com Ozanam quanto com Bailly de Surcy, outro importante nome na fundação da SSVP.
O Nascimento da Conferência de São Vicente de Paulo
Em 23 de abril de 1833, no aniversário de 20 anos de Ozanam, nasceu a Conferência da Caridade. Nos primeiros meses, as reuniões ocorriam de maneira mais esporádica, devido às férias dos estudantes, mas a partir do segundo semestre, as atividades começaram a fluir de forma mais consistente, com Le Prévost assumindo um papel ativo.
Em fevereiro de 1834, ele fez uma proposta crucial durante uma reunião: colocar a Conferência sob o patronato de São Vicente de Paulo, o Santo da Caridade. A proposta foi aceita por unanimidade e, a partir de então, a Conferência passou a se chamar Conferência de São Vicente de Paulo. Nesse momento, a espiritualidade de Le Prévost começou a se desenhar de forma mais clara, evidenciando o amor a Deus manifestado tanto no interior do coração quanto no serviço aos mais necessitados. A opção preferencial pelos pobres, tão defendida pelo Papa João Paulo II, era evidente na vida de Le Prévost.
Le Prévost e Sua Relação com Ozanam
A amizade e a admiração mútua entre Le Prévost e Ozanam são notáveis. De acordo com o livro de Irmão Serge Grandais, intitulado Jean-Léon Le Prévost – A ternura de Deus junto aos pobres, Le Prévost foi membro do Conselho Geral da SSVP entre 1835 e 1855, participando ativamente das reuniões ao lado de Ozanam. Apesar de divergirem em algumas opiniões, havia grande respeito entre ambos. Em uma carta de 1843, Ozanam demonstra sua confiança em Le Prévost: “Entregar o cuidado dos negócios às mãos de Le Prévost é a melhor coisa a fazer”.
Le Prévost foi o inspirador de muitas das iniciativas lançadas pela Sociedade desde os primeiros dias, desenvolvendo, inclusive, um dinamismo crescente enquanto presidia a Conferência Mãe de São Sulpício até 1849. A Santa Família, uma obra fundada por ele em 1844, foi descrita como “a obra-prima da caridade parisiense” por um pároco de Paris.
Seu legado é imenso, e ele continua sendo uma inspiração para os confrades e consócias da SSVP em todo o mundo. Ozanam, ao reconhecer sua contribuição, escreveu: “O Sr. Le Prévost fundou quase todas as obras de que se ocupam hoje as Conferências de São Vicente de Paulo”.