É urgente e preciso motivar e buscar um novo modo de agir em busca de uma ajuda mais eficaz aos Pobres. Essa foi a premissa e a conclusão do Encontro Nacional da Família Vicentina, realizado em Osasco de 17 a 19 de junho, com a participação de 13 Ramos da Família Vicentina e do Padre Flávio José Pereira Tercero, CM, representando o Comitê Internacional. Ao todo, cerca de 50 participantes debateram temais atuais, buscaram soluções para cada um dos 23 Ramos do Brasil, sob o tema “Comunhão e participação para melhor servir e vicentinizar a pátria grande”.
O Encontro foi aberto coma celebração de Corpus Christi, como de tradição, e a confecção do tapete, representando cada Ramo presente e mostrando a situação de pobreza que cada um enfrenta e trazendo mensagens de motivação.
Durante os três dias de Encontro, os participantes integraram cinco painéis de discussão. No 1° painel, “Comunhão e Participação”, apresentado pelos seminaristas Alisson Medeiros, CM, e Antonio Edilson, RV, foi feita uma profunda reflexão dobre o Sínodo da Igreja. “Foi importante porque nos fez voltar para as nossas bases, a comunhão. Somos todos filhos de Deus, na comunidade da fé. Nos voltamos para a escuta atenta do Espírito Santo e para a missão da Igreja e nossa de evangelizar e de ajudar aos Pobres. O objetivo maior foi inspirar as pessoas a fazerem a caminhada na sinodalidade: em comunhão, participação e missão”, conta a consócia Márcia Moreschi, membro da Sociedade de São Vicente de Paulo na Comissão Nacional da Família Vicentina.
O 2º painel teve o tema “São Vicente e Santa Luísa e as Fundações Legais” e, além de fazer uma volta às origens da Família Vicentina, apresentou um a um os Ramos presentes, que além de resgatarem a história, fizeram uma atualização de como estão os trabalhos neste período quase pós-pandêmico. Mesmo carisma, porém com uma diversidade de ações e ricas experiências que precisam ser melhor compartilhadas.
Já o 3º painel, trouxe o tema do Encontro, “Vicentinizar a Pátria Grande”. Dirigido pelo Padre Flávio, o painel foi um dos pontos-chave do Encontro. “Foi feita uma reflexão profunda voltada para o nosso carisma, para como estamos e quem cuida desse grande avião, que é a Família Vicentina. A conclusão a qual chegamos é muito simples e desafiadora. É necessário enfrentar as novas realidade e crises e encontrar um novo agir”, explica Márcia.
Neste momento, Padre Flávio chamou os presentes para um desafio muito grande: é preciso restaurar a pedagogia de Vicente de Paulo de olhar para a realidade, perceber, analisar, refletir e encontrar alternativas para esse novo agir. “Ficou muito claro que é preciso seguirmos no caminho da sinodalidade, porque os Pobres estão aí e o piloto deste avião, que somos cada um de nós, precisa assumir o comando. A pandemia afetou muito o nosso trabalho, em todos os Ramos, mas precisamos retomar com força, incentivar aqueles que por um motivo ou outro estão desanimados, pois os Pobres precisam de ajuda, como nunca”, conta a consócia Márcia. “É preciso escutar olhando e olhar sentindo”, conforme o Padre Flávio destacou.
Em sua fala, Padre Flávio ainda destacou a importância de se fortalecer a Família Vicentina no Brasil, fez um chamamento para que se engaje em todas as confrarias (educação, psicologia, comunicação etc.) e passou as prioridades internacionais para os presentes, destacando o Encontro da América Latina, que irá acontecer em março de 2023, na República Dominicana.
Dentro das prioridades, a consócia Márcia apresentou a Campanha das 13 Casas aos presentes e fez um chamamento para que ela se amplie no Brasil. “Hoje temos dois projetos reconhecidos pelo Comitê Internacional, que são o Banho Solidário, hoje em Minas Gerais, e o 13 Casas no sul do país. Ainda temos outras sete iniciativas em discussão para implantação e que logo, logo devem entrar em prática e serem divulgadas”, explicou. Ela reiterou que unidos em Família Vicentina podemos ser mais fortes e os projetos colaborativos terão maior impacto e benefícios na vida dos nossos Mestre e Senhores. Ressaltou que é preciso aprender uns com os outros, a construir pontes e a dar força de novo às nossas mãos para a nossa missão comum.
O 4º painel falou sobre o tema do ano Temático: “Missão saber cuidar”. O confrade Júnio Elias da Silva Valentim, Vice-presidente do CNB/SSVP, fez a reflexão sobre o saber cuidar de nós mesmos, do outro e da nossa missão vicentina. “Um ponto muito importante levantado neste painel foi o chamamento para a renovação de uma nova missão. É preciso sair ainda mais em ajuda ao Pobre. Renovar o nosso carisma e seguir”, avalia Márcia.
O 5º painel trouxe “A Família Vicentina e a realidade pandêmica e pós-pandêmica”, com três testemunhos. Pelo primeiro Ramo de Alagoas, das Irmãs Servas dos Pobres de São Vicente, a Irmã Maria Joana apresentou o trabalho e o relato da Casa de Passagem local (Casa Ranquines), que foi talvez o único suporte que pessoas em situação de rua tiveram na época da pandemia, quando todos se recolheram às suas casas e essa população ficou ainda mais à margem da sociedade. O segundo foi a emocionante experiência do projeto Banho Solidário da SSVP, em Juiz de Fora, que igualmente surgiu durante a pandemia e deu aconchego a inúmeros irmãos em situação de rua com serviços de higiene pessoal, alimentação e principalmente a escuta fraterna.
O terceiro relato foi feito pela consócia Ada Ferreira, membro da equipe gestora do Rede de Afeto. Ela contou como a SSVP se organizou naquele momento tão delicado para prestar auxílio psicológico aos assistidos nos Lares, trabalhadores e vicentinos. E depois do como esse trabalho se expandiu à sociedade como um todo (não vicentinos, inclusive) e se perpetua até hoje.
A reflexão trazida neste painel por José Claudio Oliveira Filho, da AMM, foi que agora é hora da transição. Como Família Vicentina, como está sendo essa etapa? Ele finalizou com a seguinte frase de Padre Tomaz Mavric, CM: “Juntos em oração, pensamento e ação.”
O último painel do Encontro falou sobre “A miséria dos Pobres diante da miséria de nossa ação”. Coordenada pelo Padre Edson Friedrichsen, CM, a reflexão foi muito profunda e pesada. “Esse painel solidificou o que foi discutido ao longo dos demais temas: é preciso mudar o nosso agir. Padre Edson durante o encontro foi muito assertivo em suas palavras e na sua reflexão sobre o que realmente fizemos nesses dois anos de pandemia pelos Pobres. Sim, nós fizemos muitas coisas, dentro de todas as restrições que enfrentamos, mas isso ainda era muito pouco perto da necessidade e da miséria do nosso povo. É urgente refletir e mudar o modo de agir. Colocar nosso carisma acima de tudo, arregaçarmos as mangas e buscarmos novas formas e formas efetivas de chegarmos aos Pobres. Essa é nossa missão. Esse é nosso carisma”, conclui Márcia.