Que alegria celebrar, a cada ano, a festa da Páscoa do Senhor!

Este evento salvífico da morte e ressurreição de Jesus é a expressão máxima do amor de Deus pela humanidade quando oferece, como dom, seu Filho Jesus Cristo. Dom que tem uma dupla dimensão: é algo que nos é dado gratuitamente e sem merecimento de nossa parte. É assim que Deus vem ao nosso encontro constantemente – sem pedir nada em troca e sem merecimento de nossa parte.

Em certas situações da vida, nos identificamos com muita facilidade com o Cristo crucificado, mas a ressurreição pode ser algo que ainda nos parece abstrato, e não nos toca diretamente. Porém, quando celebramos a Páscoa de Jesus, celebramos também a nossa participação na morte e ressurreição do Senhor. Isso nos faz perceber que cruz e ressurreição são resultados concretos da vida e da missão de Jesus: o Reino como justiça aos Pobres e marginalizados. Assim, a cruz foi o cume de uma perseguição pelo que Jesus fez e disse em favor dos marginalizados e contra seus opressores. A ressurreição aparece também como confirmação da vida e da missão de Jesus na defesa dos sofredores.

Quando falamos da cruz, portanto, não podemos perder de vista que Jesus assumiu sua missão no meio dos Pobres, proclamando que o Reino é Deles (cf. Lc 6,20), indo ao encontro dos marginalizados, comendo com os pecadores, manifestando sua misericórdia a eles, denunciando as injustiças e opressões cometidas pelos poderes político e religioso de seu tempo. Assim, as perseguições não demoraram a acontecer e culminaram com a morte de cruz. A decisão de crucificar Jesus não foi uma opção qualquer, dentre outras possíveis, mas tinha como objetivo fazer com que Jesus passasse, como um maldito de Deus, tendo em vista a prescrição de Dt 21,22-23, que declara malditos os que são suspensos no madeiro. Isso faria com que toda a vida e o projeto de Jesus fossem abafados e esquecidos.

Mas quem se coloca no seguimento de Jesus e é fiel ao projeto do Pai como Ele foi, defendendo os Pobres e denunciando os opressores, participa do mesmo caminho que levou Jesus à cruz. Há ainda outros tantos que não abrem a boca, que só sofrem as injustiças e opressões de uma sociedade que “descarta e lança fora”, como nos lembra o Papa Francisco (Evangelii Gaudium, n.196). Logo, os pobres e marginalizados, os crucificados na história, são os que reproduzem hoje a cruz de Jesus. Sua simples existência é a denúncia mais clara e evidente de que o projeto de justiça, amor e fraternidade precisa acontecer e, enquanto houver uma só pessoa passando por situações de negação de sua dignidade humana, isso é sinal de que ainda não estamos seguindo suficientemente a Jesus, realizando o projeto do Reino. A participação na sua morte se dá, pois, quando tomamos a sério a mesma missão, lutando pela vida e dignidade dos crucificados, libertando-os do sofrimento e do abandono.

Mas a morte de cruz não foi a última palavra de Deus para Jesus, nem a morte dos Pobres e marginalizados é a última palavra de Deus para eles. Surgiu algo novo na história!  Na Ressurreição de Jesus brota a plenitude e o triunfo da vida sobre a morte, da justiça sobre a injustiça, da libertação sobre a opressão, do amor sobre o ódio. E nós podemos também participar desta Ressurreição, na medida em que nossa vida se conforma à de Jesus, numa doação ao anúncio e realização do Reino de Deus.

Nossas Conferências Vicentinas devem ser um sinal vivo de Ressurreição para os todos os Pobres Crucificados assistidos pelos nossos confrades e consócias. Isso significa anunciar a Boa Notícia de que, de uma vez por todas, Deus fez justiça ao injustiçado e é preciso que essa Boa Notícia vá se fazendo realidade na nossa prática, ou seja, nossa ação vicentina continua a missão de Jesus, lutando pela justiça, paz, solidariedade, vida e dignidade dos mais Pobres!

 

Padre Alexandre Nahass Franco (Congregação da Missão-CM)

Assessor Espiritual do CNB

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