Ex-assistido pela SSVP encontra dólares no lixo e devolve a dono

João Rodrigues Cerqueira afirma que nem pensou na possibilidade de ficar com o dinheiro: “Ele não era meu e o dono, talvez, estivesse precisando muito”.

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
João e o dono do dinheiro encontrado / Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Faltava comida na casa do catador de recicláveis João Rodrigues Cerqueira, de 20 anos, na última terça-feira (20). A quantidade de arroz não era suficiente para ele e a esposa. Não tinha mais nenhum outro alimento no armário. Mesmo com a situação desesperadora, levantou cedo e foi trabalhar em uma cooperativa perto de onde mora, na Cidade Estrutural, um bairro ocupado inicialmente por catadores de lixo, próximo ao Lixão de Brasília (DF). Ele só não imaginava que aquele dia mudaria a vida dele. Em meio aos materiais recicláveis, João encontrou cerca de US$1,4 mil (aproximadamente R$5 mil). O dinheiro seria suficiente para a compra de supermercado, fraldas à filha de 10 meses e uma pequena melhoria no barraco onde vive com a família, construído com madeira de MDF. Mas em vez de ficar com a quantia, o catador de recicláveis decidiu devolvê-la ao dono. “Ele (dinheiro) não era meu e, o dono, talvez, estivesse precisando muito. E não me arrependo da decisão que tomei. Minha mãe me ensinou a ser honesto”, afirmou João, em entrevista ao site SSVPBRASIL.

O dono dos dólares é o fonoaudiólogo Bruno Temístocles. Ele havia comprado o dinheiro para uma viagem que fará com a noiva em fevereiro de 2017. Pegou a quantia, embrulhou-a em um pedaço de papel e guardou no console do carro. Sem se lembrar do dinheiro dentro do veículo, pediu ao cunhado, um menino de 7 anos, que tirasse todos os lixos que estivessem dentro do automóvel. A criança, por engano, pegou o pacote de dinheiro e o descartou juntou a outros materiais.

Quando Bruno percebeu o que tinha acontecido, foi até a cooperativa de recicladores, na tarde de segunda (19). Procurou o dinheiro por cerca de 3h30, mas não obteve sucesso.

O fonoaudiólogo, então, pediu que os catadores tentassem encontrar a quantia. E assim aconteceu. João chegou ao trabalho e começou a separar o material reciclável. Ao abrir uma sacola preta, viu o que ele achou que pudesse ser o dinheiro. “Era um bolo de papel que parecia ser de notas. Rapaz, eu nunca tinha visto um dólar antes na minha vida”.

O reciclador, imediatamente, entrou em contato com o fonoaudiólogo. Bruno não deu apenas a gratidão dele a João. Ele o recompensou com R$500 e um emprego na construtora da família, onde o novo funcionário vai ganhar R$1,5 mil reais, na função de auxiliar de serviços gerais. É mais que o dobro do que recebe na cooperativa, cerca de R$600. “Com o dinheiro que ele me deu, eu comprei comida e fraldas. Agora, tem até franguinho em casa”, comemora.

RELAÇÃO COM A SSVP

João conta que a família dele já foi assistida pela Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) há cerca de 8 anos, quando morava em uma invasão no bairro Guará. Depois, eles se mudaram para o interior de Goiás e perderam o contato com os vicentinos. Ele não se recorda mais o nome da Conferência que os ajudou, no entanto, conta que tem profunda admiração por aqueles confrades e consócias. “São pessoas muito boas que nos ajudaram muito. Eu sonho, um dia, em também poder ajudar a quem precisa”.

LIÇÃO

Ainda durante a entrevista, João contou todo orgulhoso à equipe de reportagem do site SSVPBRASIL que, agora, vai trabalhar com carteira assinada, ganhar vale-transporte e vale-refeição. “Quero trabalhar honestamente e ajudar minha mãe. Estou feliz demais e com a consciência tranquila. Se tivesse ficado com o dinheiro, quando colocasse a cabeça no travesseiro, eu não ia dormir”.

Desde o ocorrido, João tem atendido a dezenas de entrevistas. Ele disse que se espanta pelo gesto dele causar tanta repercussão. “Eu só fiz o que era certo, mas talvez, as pessoas se assustem por ver um pobre devolvendo um dinheiro, enquanto tantos ricos só querem mais e ficam com tanta ganância”, ensina.

O reciclador é da cidade de Remanso, na Bahia, e mudou-se para Brasília quando tinha 6 anos, junto com a mãe, em busca de condições melhores de vida. Ele estudou até a 8ª série.

Fonte: Redação do SSVPBRASIL / Agradecemos a gentileza do Portal Metrópoles.com pela cessão da fotografia que ilustra essa matéria.

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