Hoje, dia 8 de setembro, é celebrada a Natividade de Nossa Senhora, data que homenageia os nove meses da Imaculada Conceição de Maria. A SSVP Brasil convidou o padre Emanoel Bedê, Assessor Espirital do Conselho Nacional do Brasil (CNB), para refletir sobre a celebração, confira:
Antes de tudo, é preciso dizer que esta festa, como tantas outras que se referem à Nossa Senhora, teve seus primórdios na tradição oriental e só mais tarde, no final do século VII, foi introduzida no mundo latino.
Celebrar a Natividade de Nossa Senhora é crer nos preparativos da Encarnação, o que significa crer na realidade da Encarnação e reconhecer a necessidade da colaboração do homem na efetivação da salvação do mundo. O significado desta festa é a prefiguração da natividade do Verbo, ou melhor, a predestinada união do Verbo com a carne, pois com o natal de Maria somos presenteados com o natal do seu filho Jesus, e se ela é chamada de Nossa Senhora é porque chamamos seu Filho Jesus de Nosso Senhor.
De acordo com o Missal Romano, “devemos buscar neste culto da Natividade de Maria uma verdade profunda: a vinda do homem-Deus à terra foi longamente preparada pelo Pai no decurso dos séculos. A pessoa divina do Salvador supera infinitamente tudo o que a humanidade podia gerar, porém, a história da humanidade foi como um lento e difícil parto das condições necessárias à Encarnação do filho de Deus. Quis por isso a devoção cristã venerar as pessoas e os acontecimentos que prepararam o nascimento de Cristo no plano humano e no plano da graça: sua Mãe, o nascimento dela, sua concepção, seus pais e antepassados”. Em outras palavras, é crer e professar que Deus se encarna na história humana com a colaboração do ser humano, como se nos pedisse licença para entrar em nossa casa e fazer morada conosco. Vendo por esse prisma, festejar o nascimento da Virgem nos faz celebrar o verdadeiro presépio onde se aconchega o menino Jesus.
Sobre essa verdade, nos afirma São Pedro Damiani: “Hoje é o dia em que Deus começa a colocar em prática seu plano eterno, pois era necessário que a casa fosse construída, antes que o Rei descesse para morar nela (…), este palácio de Maria repousa sobre os sete dons do Espírito Santo (…). É justo, portanto, cantar este dia e ela que nele nasce”, pois ela nasceu, cuidou e foi criada para ser a Mãe do Salvador.
Se prestarmos bem atenção, nove meses se passam do dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Concepção de Maria, até a festa de seu nascimento e assim expressa o grande pregador Pe. Antônio Vieira, sobre as diversas e mais variadas facetas que humanamente o povo foi pintando e esculpindo os traços de nossa mãe querida, conferindo-lhes os mais diversos títulos para falar mais de nós do que dela: “Tais são todos os nomes e sobrenomes com que a cristandade invoca, venera e dá graças à Virgem Maria, tirados todos e fundados nas etimologias dos benefícios já experimentados e recebidos, para obradora dos quais hoje nasce ao mundo. E se não perguntemos a todos os estados do mesmo mundo, e mais aos que mais padecem as suas misérias, que todos nos dirão este para quê. Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina: dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres: dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados: dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados: dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes: dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz, os discordes para Senhora da Paz, os desencaminhados para Senhora da Guia, os cativos para Senhora do Livramento, os cercados para Senhora do Socorro, os quase vencidos para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho, os navegantes para Senhora da Boa Viagem, os temerosos da sua fortuna para Senhora do Bom Sucesso, os desconfiados da vida para Senhora da Boa Morte, os pecadores todos para Senhora da Graça, e todos os seus devotos para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se uniram em uma só voz, todas estas perguntas em uma só pergunta, e todas estas respostas em uma só resposta, ou, mais abreviadamente, todos estes nomes em um só nome, dirão que nasce Maria para ser Maria, e para ser Mãe de Jesus: Maria, de qua natus est Jesus”.
Seja sempre Maria o caminho a nos levar para os braços de seu Filho Jesus, Evangelizador dos Pobres, caminho, verdade e vida, amante de nossa alma! Amém!