A cada três semanas no Brasil, o número de jovens mortos de forma violenta é maior do que a quantidade de vítimas de todos os ataques terroristas no mundo dos últimos cinco meses, que envolveram 498 atentados, com 3.314 vítimas fatais. A constatação vem de um estudo elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As informações foram divulgadas recentemente, e feitas a partir de estudos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), entre 2005 e 2015.
O estudo, denominado ‘Atlas da Violência 2017’, revela que a cada 100 mil habitantes, quase 30 são assassinados. Segundo o perfil, as vítimas são sempre as minorias sociais: negros, com baixa escolaridade e jovens. “Há, no Brasil, uma licença para matar, desde que isso aconteça fora das áreas nobres das cidades”, diz Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo.
Entre 2005 e 2015, houve um aumento de 17,2% na taxa de homicídio de indivíduos entre 15 e 29 anos. Foram 318 mil mortes violentas. Já a taxa de homicídios de negros cresceu 18,2%, isto significa que de cada cem pessoas assassinadas no Brasil, 78,9% são negras.
Em 2015, cerca de 385 mulheres foram assassinadas por dia. A porcentagem de homicídio dentre elas cresceu 7,5% entre 2005 e 2015, em todo o país.
A arma de fogo foi a principal causadora de mortes em 2015. Respondeu por 71,9% dos homicídios.
Cidades mais e menos violentas
O ‘Atlas da Violência’ também mostra as 10 cidades mais violentas para se viver no Brasil: Altamira (PA), Lauro de Freitas (BA), Nossa Senhora do Socorro (SE), São José de Ribamar (MA), Simões Filho (BA), Maracanaú (CE), Teixeira de Freitas (BA), Piraquara (PR), Porto Seguro (BA) e Cabo de Santo Agostinho (PE). Já as mais pacíficas são: Jaraguá do Sul (SC), Brusque (SC), Americana (SP), Jaú (SP), Araxá (MG), Botucatu (SP), Bragança Paulista (SP), Jundiaí (SP), Conselheiro Lafaiete (MG) e Teresópolis (RJ). Todos os municípios analisados têm mais de 100 mil habitantes.
Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro (RJ), conhecida pelas belezas naturais e também pela violência, teve um declínio de quase 37% na taxa de assassinatos. Em contrapartida, o município é o segundo com o maior número de mortes decorrentes de intervenção policial (645), atrás apenas de São Paulo (848). Intervenção policial, como o nome sugere, é morte provocada por policiais.
É no Rio de Janeiro, em uma comunidade muito pobre conhecida como ‘Cidade de Deus’, que duas Conferências vicentinas enfrentam o medo da violência para levar cestas às famílias carentes, conforme mostra matéria publicada na edição setembro/outubro do ano passado da revista Boletim Brasileiro. Uma das Conferências é a Nossa Senhora Medianeira; temerosos, nenhum dos membros quis dar entrevista. Já a outra é a São Miguel Arcanjo, que funciona na Capela Nossa Senhora Aparecida. Por causa da violência, os dias e horários das reuniões costumam mudar. Uma consócia, que pediu para não ser identificada, conta que, às vezes, até chegar à Conferência, é escoltada por jovens armados que verificam se ela realmente está indo para a Igreja.
O confrade Matias de Santana conta que o medo é o principal empecilho do trabalho vicentino no local. “É muito difícil fazer visita por causa da violência”.
A presidente do Conselho Particular que administra as ações vicentinas na área e visita as duas Conferências quinzenalmente conta com a proteção celestial para subir o morro. “Tenho certeza de que São Vicente de Paulo está sempre nos guiando e defendendo de todo mal que nos possa acontecer”, afirma a consócia Raimunda Mendes de Moura.
Fonte: Redação do SSVPBRASIL