Hoje, 02 de novembro, celebramos uma data reflexiva para todos, o Dia de Finados. Pensando nisso, a SSVP conversou com os padres Emanoel Bedê e Tadeu Porto para entender um pouco mais sobre o dia e refletir sobre a relação dele com os tempos atuais que vivemos.
Vamos a ela:
Parte histórica
A instituição como tal para a celebração do dia de finados é recente. Foi o Papa Bento XV (1854-1922) que, em 1915, colocou como via de praxe para toda a Igreja, em apreço ao incontável número de mortos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Antes disso, há uma longa caminhada até chegarmos a demarcar este dia como dia de oração e recordação pelos falecidos.
Já no século II, havia cristãos que costumavam visitar e rezar sobre os túmulos dos mártires. No século V, a Igreja passou a dedicar um dia de oração, no decorrer do ano, em sufrágio das almas daqueles que foram esquecidos, ou que não recebiam nenhum tipo de oração. Todavia, foi a partir da Abadia de Cluny, na França, em 998, que seu abade, Santo Odilo (961-1049), tomado pela benevolência, rezava continuamente pelas almas do purgatório. Sua atitude estendeu-se pelos demais monastériosligados a Cluny, sendo comum entre os demais monges tal forma de praticar a caridade, através das orações oferecidas às almas dos falecidos, o que se expandiu até chegar à forma organizada que encontramos hoje.
Parte reflexiva
A experiência da morte é uma experiência dolorosa, pois motivados pela saudade dos nossos entes queridos somos levados a momentos de tristeza e lágrimas causados pelo vazio que eles deixam. Porém, devido a fé que professamos na ressurreição de Jesus, experimentamos o que Ele mesmo viveu em solidariedade à nossa humanidade, unindo-nos a Ele em Sua Paixão e Morte, com a recordação daquelas pessoas queridas que já partiram dessa nossa realidade.
Tal qual a morte de Jesus inseriu a humanidade em um profundo silêncio, ao lidarmos com essa experiência trágica sentimos de modo contundente e concreto a nossa limitação, a dor, e o vazio que nos coloca em tal silêncio. A solidariedade divina do nosso Salvador se faz necessária, pois em unidade a totalidade da condição humana, visto que é Deus encarnado nesta, Ele nos diz o quanto a vida humana é digna, passando pela morte para ir de encontro àqueles que estavam na “mansão dos mortos” conferir-lhes a Salvação.
Se ao depararmo-nos com o sentimento avassalador da dor que a morte provoca em nós, gerando por sua vez o sentimento de desilusão em relação à fé, é preciso compreender que é a partir dessa experiência dolorosa que brota a concepção de fé no Ressuscitado. Esta então será não só sentimento que expressa alegria, mas provocadora de esperança, de que aqueles que no Cristo morreram, também ressuscitarão nEle (cf. I Tes 4,14).
A experiência da fé cristã está alicerçada na Ressurreição de Jesus, que partilhada a todos aqueles que, crendo nEle, possuirão a vida eterna (cf. Jo 3,36).
Portanto, somos todos convidados a recordar nossos falecidos, orar por eles, assim como por todos aqueles que adormeceram no Senhor no fim de suas respectivas caminhadas terrena, visto que a solidariedade espiritual que nos congrega no Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, testemunha também nossa comunhão fraterna com aqueles que nos precederam nesse dado humano da morte. Sinaliza não só nossa esperança no ressuscitado, mas também a nossa alegria por sabermos que a morte foi vencida, e aqueles que por ela passaram, abrem seus olhos para um novo sol e um novo dia.
Mensagem aos confrades e consócias
Nosso Deus é o Deus dos vivos. Ao fazer memória aos que já partiram e, segundo a nossa fé cristã, já se encontram junto do Pai, desejamos renovar a fé no Deus que nos ama incondicionalmente, a ponto de nos entregar seu Filho único para nossa salvação, para que tenhamos a certeza de que a morte jamais terá a última palavra em nossa fugaz existência porque, nos certifica Santo Irineu de Lyon, “A glória de Deus é o homem vivo”. Não há como, nesta data, não lembrarmos das centenas de vidas ceifadas pela pandemia da COVID-19. A seus familiares e amigos queremos deixar a certeza do amor que Deus sente pelo ser humano, pois, ao recordar a dor pelo ente querido que partiu queremos também recordar que “Jesus não hesitou em sujar as mãos por nós, fazer-se próximo de nossa pobreza e solidário com nossa dor. Jesus Cristo, o Deus humano, revela-nos com toda a sua vida e com sua morte de cruz, quão grande e concreto é o amor de Deus”, por todos nós e não deixará que nenhum de seus filhos se perca pelos caminhos do vale da morte.
Fontes:
O Pão Nosso de Cada Dia: subsídio Litúrgico-Catequético N 193. Novembro – 2017 – Ano A (Mateus).
Os Santos do Calendário Romano: Rezar com os santos na liturgia – Enzo Lodi Paulus – SP – 2001.
Introdução à Fé – Bruno Forte, Paulus, 1994.