Três lições de Imaculada Conceição aos vicentinos

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Estimadas consócias e caros confrades,

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

Temos o privilégio de participar da Festa Regulamentar em homenagem à Imaculada Conceição de Maria de Nazaré, Mãe de Jesus.

O significado desta festividade é reconhecer e celebrar o fato de que Nossa Senhora foi concebida totalmente sem a mancha do pecado original, e por essa razão, ela recebeu da Igreja o título de Imaculada Conceição.

Tal designação, refere-se ao “(…) Dogma de Fé declarado pelo Papa Pio IX em 1854 (…)”. Pois, “Para ser digna Mãe de Deus, Maria precisava ser toda santa e livre de toda imperfeição ou culpa. E isso ela foi, desde o primeiro instante de sua vida, em virtude dos méritos do seu Filho, Redentor do mundo”. E, “(…) Por graça especial de Deus, ela permaneceu pura de todo pecado pessoal durante toda sua existência. A graça de Deus inundou seu coração: ela é cheia de todas as graças e virtudes. No seu coração não houve lugar para o pecado” (1).

No entanto, é importante extrairmos desta preciosa oportunidade, edificantes ensinamentos que possam revigorar a nossa vocação vicentina, condição indispensável para servirmos – de maneira eficaz – os Pobres.

Assim, encontramos numa Oração à Imaculada Conceição, escrita pelo Papa Francisco em 2013, notável fonte de inspiração com o propósito de nortearmos a missão que recebemos de Deus – isto é, de promovermos os empobrecidos – no mesmo caminho percorrido pela Virgem Santíssima, que testemunhou de forma exemplar como deve ser o amor dedicado a quem sofre das consequências causadas pelas misérias corporais e espirituais.

Nesse sentido, o Papa Francisco – com a sua belíssima oração – nos ofereceu as seguintes lições, rezando:

1ª. Lição: “Virgem Santa e Imaculada, (…) a Vós nos dirigimos com amorosa confidência”. “Toda sois Formosa, ó Maria! Em Vós não há pecado. Suscitai em todos nós um renovado desejo de santidade: na nossa palavra, refulja o esplendor da verdade, nas nossas obras, ressoe o cântico da caridade, no nosso corpo e no nosso coração, habite pureza (…) na nossa vida, se torne presente toda a beleza do Evangelho” (2).

Ficam evidentes múltiplos aspectos – presentes na oração – visando o nosso aprendizado, que são primordiais para a vivência vicentina autêntica: o desejo de alcançar a santidade; viver de acordo com a verdade; realizar obras dirigidas à caridade; ter a reta intenção de se relacionar com os marginalizados empregando ilimitada pureza; (…) e que na nossa vida, os excluídos descubram toda a beleza do Evangelho”.

2ª. Lição: “Toda sois Formosa, ó Maria! Em Vós Se fez carne a Palavra de Deus. Ajudai-nos a permanecer numa escuta atenta da voz do Senhor: o grito dos pobres nunca nos deixe indiferentes, o sofrimento dos doentes e de quem passa necessidade não nos encontre distraídos, a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças nos comovam, cada vida humana sempre seja, por todos nós, amada e venerada” (3).

As orientações do Papa Francisco se ampliam, atingindo horizontes que demonstram as inquietações quanto as fraquezas humanas, nas quais devemos agir, exercendo – com eficácia – ações que consigam fomentar a promoção daqueles que vivem em situação de vulnerabilidade social, sobretudo: dos pobres; dos doentes e de quem passa necessidade; dos idosos e das crianças; e também, de cada vida humana.

Contudo, para o pleno exercício do trabalho vicentino é essencial despertar em nossos corações a virtude da compaixão, pois do contrário, seremos: indiferentes ao grito dos pobres; distraídos ao sofrimento dos doentes e de quem passa necessidade; incapazes de nos comovermos com a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças; e inaptos para amar e venerar cada vida humana.

3ª. Lição: “Toda sois Formosa, ó Maria! Ouvi a nossa oração, atendei a nossa súplica: esteja em nós a beleza do amor misericordioso de Deus em Jesus, seja esta beleza divina a salvar-nos a nós, à nossa cidade, ao mundo inteiro” (4).

Dessa maneira, o Papa Francisco concluiu – a sua prece – com uma veemente súplica à Mãe Santíssima, a qual devemos nos juntar, visto que, conquistarmos o “estado de graça” para que esteja em nós a beleza do amor misericordioso de Deus em Jesus, é a suprema glória de uma vida vicentina, fielmente vivida no seguimento da santidade de Nossa Senhora.

Porém, para que os Vicentinos obtenham os méritos de possuírem a beleza divina que lhes garantirá a salvação, é imprescindível operar iniciativas criativas e transformadoras, que mudem os impactos provocados pelas estruturas socioeconômicas do Brasil, que afetam direta e amargamente as famílias assistidas pela Sociedade de São Vicente de Paulo.

Portanto, os Vicentinos têm o dever de buscarem propostas alternativas e inovadoras, com o intuito de amenizarem os efeitos das mazelas atuais do país, que prejudicam gravemente os Pobres, como são os dados das seguintes realidades:

— No final de 2018, o Brasil tinha 13,5 milhões de pessoas subsistindo em condições de extrema pobreza, ou seja, com renda mensal per capita inferior a R$ 145, ou U$S 1,9 por dia (5), segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) divulgados pelo IBGE. E a pesquisa também apontou, que um quarto da população brasileira, ou 52,5 milhões de pessoas, ainda vivia com menos de R$ 420 per capita por mês (6).

— O Brasil tem 11,3 milhões de analfabetos ou 6,8% da população, segundo pesquisa do IBGE, que mostrou tratar-se de 52,6% dos brasileiros com 25 anos ou mais, que só estudaram até o Ensino Fundamental. Outros 6,9% não têm instrução alguma e 4,5% têm o Ensino Médio incompleto. E na população sem instrução ou com Ensino Fundamental incompleto, 34,3% disseram que não têm interesse em voltar a estudar. Entre os mais jovens, outro número impressiona: quase 25 milhões estão longe dos estudos (7).

— A Desigualdade Social no Brasil aumentou pelo 17° trimestre seguido, ou melhor, há mais de 5 anos, sendo que o desemprego é o principal motivo para esse – lamentável – resultado, conforme indicam estudos da FGV, divulgados em agosto deste ano. E a mesma pesquisa revelou ainda, que a maior perda na renda domiciliar advinda do trabalho foi da população mais pobre, pois de acordo com o levantamento, do quarto trimestre de 2014 até agosto de 2019, a metade mais pobre do país viu sua renda diminuir 17,1% (8).

— O Desemprego no Brasil é de 11,8% e atinge 12,5 milhões de pessoas – segundo dados da Pnad Contínua – mostrando que a taxa de desemprego no país era de 6,5% no último trimestre de 2014. Mas, as informações divulgadas pelo IBGE (no final de julho deste ano), revelaram que no segundo trimestre de 2019 a taxa estava em quase 12% (9).

— E para concluir a exposição dos dados sobre a situação socioeconômica brasileira, convém ressaltar que em relação às condições de moradia: 56,2% (29,5 milhões) da população abaixo da linha da pobreza não têm acesso a esgotamento sanitário; 25,8% (13,5 milhões) não são atendidos com abastecimento de água por rede; e 21,1% (11,1 milhões) não têm coleta de lixo (10).

Diante de tantas evidências que afligem o Povo Brasileiro, competem aos Vicentinos assumirem – em suas missões – “um esforço adicional” para o árduo trabalho de aliviarem os sofrimentos dos Pobres assistidos pela Sociedade de São Vicente de Paulo, porque muitos – certamente – estão vivendo os infortúnios e as amarguras relatadas – nesta reflexão – a respeito da difícil realidade atual do Brasil.

Por isso, temos de pedir a intercessão de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, para que Deus nos encha de força e coragem na intenção de enfrentarmos tantos desafios, que tiram a dignidade dos Pobres.

Abraço fraterno.

 

Confrade João Marcos Andrietta

 

 

Referências:

(1) Cfr. Editora Santuário; Liturgia “Deus Conosco”, 1ª Semana do Advento, Ano C; de 08-12-2018.

(2) Cfr. Papa Francisco, Ato de Veneração à Imaculada Conceição, Praça de Espanha; 08-12-2013.

(3) Cfr. Idem.

(4) Cfr. Idem.

(5) Cfr. Critério adotado pelo Banco Mundial para identificar a condição de extrema pobreza nos países em desenvolvimento, como o Brasil.

(6) Cfr. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Síntese de Indicadores Sociais (SIS); divulgada em 21-10-2019.

(7) Cfr. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2018; divulgada em 19-05-2019.

(8) Cfr. FGV – Fundação Getúlio Vargas; Dados do Estudo “A Escalada da Desigualdade”; Levantamento elaborado a partir da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (Pnad), do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e do Índice Gini (indicador que mede a diferença de renda); divulgado em 16-08-2019.

(9) Cfr. Idem.

(10) Cfr. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Síntese de Indicadores Sociais (SIS); divulgada em 21-10-2019.

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