Agir como Pôncio Pilatos em período eleitoral, e ‘lavar as mãos’ para a política, é o mesmo que condenar o povo – principalmente o mais pobre – a viver em condição de abandono, opressão e miséria pelos próximos 4 anos.
A nossa amada Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) não pode ser usada como palanque eleitoral, no entanto, os vicentinos devem sim discutir sobre o papel transformador da política no processo social. Aliás, apenas por meio dela, conseguiremos garantir que os nossos ‘Mestres e Senhores’, os Pobres, tenham todos os seus Direitos assegurados.
Nossas Conferências e Conselhos, formados por grupos de amigos católicos empenhados na luta contra as misérias, não devem ser apenas mecanismos de assistência às comunidades carentes. Precisamos ir além! Nosso papel é eliminar as causas geradoras da pobreza; isto sim é praticar a caridade plena. “Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum”, defende o papa Francisco.
Não desconsideremos que o cenário atual do país, assombrado por escândalos de corrupção, acaba mesmo por nos desestimular diante do processo eleitoral. Mas é neste momento que precisamos rezar, acreditar e escolher os candidatos que representem a nossa causa, os nossos valores e sejam lideranças comprometidas com a causa do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em outro ensinamento do papa Francisco, somos convidados a refletir: “Os leigos cristãos devem trabalhar na política. Dir-me-ão: não é fácil. Mas também não o é tornar-se padre. A política é demasiada suja, mas é suja porque os cristãos não se implicaram com o espírito evangélico. É fácil atirar culpas… mas eu, que faço? Trabalhar para o bem comum é dever de cristão”. Sábias palavras do nosso Sumo Pontífice. Temos nossa parcela de culpa em todo o processo. Claro que não colocamos ilicitamente as nossas mãos no dinheiro público, mas corroboramos com a atual conjuntura, quando não denunciamos, quando nos omitimos e permitimos que corruptos se perpetuem no poder ou quando escolhemos candidatos contrários às causas dos Pobres.
A SSVP é uma instituição apartidária, no entanto, não é uma instituição apática ao sistema. Há registros de que o nosso próprio fundador, confrade Antonio Frederico Ozanam, interessado em combater os problemas da época dele na França, se candidatou a um cargo eletivo. Tal informação não abre precedentes para que elejamos aqueles aos quais nos prometem benefícios, principalmente em nossas Obras Unidas. Ajudar a quem precisa não é favor de político; é dever!
Valhamo-nos do princípio democrático de que o voto é livre, portanto, cabe a cada eleitor definir seu candidato; mas usemos de nossa voz para que não falte a todos os eleitores informações sobre a importância da escolha de bons candidatos. Depois de escolhidos e, caso sejam eleitos, que saibamos cobrar deles as propostas de campanha e acompanhar os trabalhos desenvolvidos na esfera pública, não permitindo que eles se corrompam pelo dinheiro.
Só assim, teremos uma política destinada ao fim pela qual foi criada: a defesa das causas comuns, ou seja, dos direitos coletivos. Tenhamos fé que, ao votarmos corretamente, vamos banir do cenário eleitoral aqueles candidatos ‘politiqueiros’, caracterizados pela falta de ética, e daremos lugar para os autênticos políticos, que trabalham pelo e para o povo.
Confrade Samuel Godoy
Diretor nacional de Comunicação da SSVP