O que o carregador de caminhão Augusto da Silva Peixoto fez marcou de forma bruta a história da Família Vicentina brasileira. No dia 9 de abril de 1993, em Salvador (BA), Augusto matou a facadas a Irmã Lindalva Justo, uma Filha da Caridade (Companhia fundada por São Vicente de Paulo).
Em entrevista à Istoé Gente, publicada em abril de 2007, ele disse que estava arrependido do crime e que vivia de favores em uma clínica para dependentes químicos, porque a família não o aceitava pelo crime cometido. Apesar do desprezo dos familiares, ao menos um perdão o assassino conseguiu. O da aposentada Maria Lúcia da Fé, mãe de Lindalva.
Em entrevista à revista Boletim Brasileiro, divulgada em março/abril de 2015, D. Maria disse que Augusto não agiu em sã consciência, por isso, merecia ser perdoado.
Como hoje, 7 de janeiro, celebra-se a memória litúrgica de Irmã Lindalva Justo, o site SSVPBRASIL reproduz trechos da reportagem divulgada pelo Boletim.
A mãe dela está com 97 anos e, segundo o filho, Veridiano Justo, mantém-se firme no ato de misericórdia para com o assassino.
“Eu não sou mulher de chorar”, repete insistentemente a aposentada Maria Lúcia da Fé, durante entrevista exclusiva à revista Boletim Brasileiro. Apesar da postura firme, de uma mulher que criou os 13 filhos dentro dos princípios cristãos, a vida encarregou de lhe arrancar lágrimas; e mais de uma vez. A primeira delas foi no assassinato da filha, Lindalva, em 1993. A segunda ocorreu no ano de 2007, quando o luto virou esperança para esta nordestina que carrega a palavra ‘Fé’ até no nome. Lindalva foi beatificada em um dos processos considerados mais rápidos entre os beatos brasileiros. Ele foi iniciado em 17 de janeiro de 2000 e concluído em 3 de março de 2001, um ano e três meses depois. O sonho da mãe é ver a filha santificada. “Peço a Deus para que eu possa estar presente (no dia da canonização) e suportar mais uma emoção”.
A mulher que nunca chora (ou quase nunca) diz que perdoou Augusto da Silva Peixoto, o homem que matou a filha, no entanto, presume que não conseguiria conter a emoção caso o encontrasse. “(…) se o visse, acho que não evitaria lágrimas”.
Sexta-feira Santa: morrem Jesus e Lindalva
Dois fatos unem a morte da bem-aventurada Lindalva Justo com a de Jesus. Ela foi assassinada em uma Sexta-feira da Paixão, no dia 9 de abril de 1993. Os legistas que fizeram a autópsia no corpo da Irmã encontraram 44 perfurações; o número é a soma dos 39 açoites e cinco chagas do corpo de Jesus.
O ‘calvário’ de Irmã Lindalva
Lindalva Justo nasceu em Assú, interior do Rio Grande do Norte, terra onde vive a mãe dela hoje. Quando jovem, mudou-se para Natal com o propósito de estudar e trabalhar. Foi lá que ela conheceu o Instituto ‘Juvino Barreto’, um lar de idosos, o qual passou a visitar com certa frequência. Ele era mantido pelas Filhas da caridade. Certo dia, uma Irmã convidou Lindalva a ingressar na Companhia e ela decidiu seguir a vida consagrada.
No dia 26 de janeiro, terminado o período de formação inicial, Irmã Lindalva foi transferida para o Abrigo Dom Pedro II, em Salvador (BA), onde passou a coordenar a enfermaria da ala masculina. O lar recebeu entre os internos o carregador de caminhão, Augusto da Silva Peixoto, de 45 anos. Embora não tivesse idade suficiente, já que o abrigo só recebia maiores de 60 anos, ele foi acolhido após intervenção de um político. Começava ali o martírio de Irmã Lidalva.
Augusto se apaixonou por ela. Ele passou a assediá-la e, em conversas com outras Irmãs, Lindalva chegou a comentar sobre o medo que estava sentindo. No entanto, ao ser aconselhada a pedir transferência a outra frente de trabalho, ela disse: “Prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”. Assim aconteceu. Foi morta por não corresponder ao amor do interno. Quando servia café aos velhinhos, Augusto puxou a freira pelo braço e deu-lhe uma facada na veia jugular esquerda, responsável por transportar o sangue do crânio e sistema nervoso. Ao cair, Lindalva ainda levou mais 43 facadas.
O assassino cumpriu pena no Hospital de Custódia e Tratamento até 2005.
De que forma a senhora descreveria Lindalva como filha?
Maria da Fé – Uma filha que toda mãe desejaria ter, não por ser uma beata da Igreja, mas por ter sido amável, serena, meiga, obediente e amada por todos. Filha que foi mãe e filha de tantos idosos.
Conte como soube da morte de sua filha
Maria da Fé – Era uma Sexta-feira Santa. A amiga Adália veio até a minha casa me comunicar. Nessa época, não existia celular, e telefones fixos eram poucos que tinham. Então, ligaram para ela, que me passou o ocorrido. Lembro que minhas pernas perderam o equilíbrio; sentei por alguns minutos. Queria falar e não podia. O que passava na minha mente era: não, ela tá segura; ela tá num convento. Os meios de comunicação começaram a noticiar e, logo logo, toda a cidade ficou sabendo.
Conseguiu perdoar o assassino de sua filha?
Maria da Fé – Sim, ainda recente à morte de minha filha, pois percebi que uma pessoa de sã consciência não faria o que fez.
Se tivesse a oportunidade de encontrá-lo, o que diria a ele?
Maria da Fé – Não te julgo. Só Deus te julgará. Não sou muito do chorar, mas se o visse, acho que não evitaria algumas lágrimas.
Falta a comprovação de um milagre para que Lindalva seja considerada santa. O que a senhora tem feito para que este dia chegue rápido?
Maria da Fé – Orado e cuidado da minha saúde, além de pedir a Deus para que eu possa estar presente e suportar mais uma emoção.
Fonte: Redação do SSVPBRASIL, com dados do Boletim Brasileiro