No final do ano passado, o estudante de psicologia Leonardo Azevedo de Medeiros (19) recebeu um convite irrecusável: passear no shopping da cidade de Natal (RN) ao lado do tio, o confrade Beethovem Medeiros. Os dois entraram no carro e saíram. Mas Leonardo percebeu que eles não iam sentido ao centro de compras. Beethovem continuou calado até o final do percurso. Eles pararam em uma comunidade carente, em frente à casa dos assistidos Adriano Geraldo e Sônia.
Leonardo confessa que, inicialmente, ficou frustrado ao detectar o desvio do percurso. Só que ao entrar na simples casa da Vila de Ponta Negra, e conhecer a história do casal, a percepção dele mudou. “Nós recebemos tanto carinho e eu vi que a gente não precisa de muito para ser feliz”, define.
O assistido Geraldo é diabético e, por causa da doença, teve as pernas amputadas. Mesmo diante de tantas dificuldades, não perde a esperança, a fé e a alegria. Este foi o motivo que levou o confrade Beethovem a preparar a surpresa ao sobrinho. “Às vezes, costumo mudar o roteiro nas vidas das pessoas. É importante que elas vejam outras realidades”, defende. Ele é membro da Conferência São João Batista e coordenador da Escola de Capacitação Antonio Frederico Ozanam (Ecafo) na Região VI.
Após a visita, Leonardo espera a fundação de uma Conferência na cidade onde mora, Santa Cruz, para poder participar mais da SSVP. A experiência foi tão marcante que o jovem escreveu uma crônica sobre o episódio e que já foi pulicada em um site nacional. Você confere a íntegra a seguir:
Encontrando a felicidade
Há algum tempo, questiono-me o que é felicidade. Até duvido se ela realmente exista. Essas eram queixas recorrentes até o dia de hoje, quando pude de fato compreendê-la.
Meu tio nos tirou do conforto do condomínio, alegando que ia para o shopping, mas seguiu um caminho diferente do usual. Devo confessar que aquilo me deixou frustrado, até chegar naquele lugar.
O bairro era diferente do nosso, as pessoas eram mais humildes (no melhor sentido da palavra), as crianças corriam sem medo do nosso carro, seus olhos brilhavam igual ao sol que estava escaldante naquele dia, mas nenhuma parecia se importar.
Meia dúzia de meninos empinava pipa, as mulheres à beira da calçada conversavam sobre algum assunto com entusiasmo, o céu parecia ter mais cor e, dentro do carro, todo mundo fazia silêncio, como se estivéssemos aproveitando o momento.
Eu olhava para aquelas pessoas como quem admira o pôr do sol, temo que ninguém nunca conseguirá descrever aquela vista, assim como a felicidade.
Logo, chegamos à casa do amigo do meu tio; ele não tinha pernas, mas tinha bastante caminhada, como ele mesmo disse; poderia não ter nada, mas tinha histórias. Sua família logo nos recebeu com um abraço, um aperto de mão, um amor sem igual.
Ao final do dia uma oração, da qual eu nunca tinha experimentado; fechei os olhos, deixei o vento me acariciar no rosto e suas palavras me abraçarem. Naquele momento, eu sabia o que era felicidade. Não precisava dar um sorriso de mostrar os dentes, muito menos ir ao shopping. Felicidade é simples como um menino soltando pipa ou um contador de histórias.
Leonardo Azevedo
Fonte: Redação do SSVPBRASIL