“A humanidade de nossos dias me parece semelhante ao viajante de que fala o Evangelho. Ela também, enquanto prossegue o seu caminho, que Cristo lhe traçou, foi atacada por assaltantes, por ladrões do Pensamento, por homens ruins que lhe roubaram o que possuía – o tesouro da fé e do amor; e a deixaram desnuda e gemente – deitada à margem da estrada. Os sacerdotes e os levitas passaram e, dessa vez, como eram sacerdotes e levitas verdadeiros, aproximaram-se desse ser sofredor e quiseram curá-lo. Mas, no seu delírio, ele os ignorou e os repeliu. Por nossa vez, fracos samaritanos profanos e gente de pouca fé que somos, ousamos, no entanto, aproximar-nos desse grande enfermo. Talvez não terá medo de nós. Procuremos descobrir as suas chagas e ali derramar o azeite. Dirijamos ao seu ouvido palavras de consolação e de paz” (Célier, prefácio, pág. XI).
Quando Célier fala no texto acima que o tesouro da fé e do amor foi roubado da humanidade e que ela está vulnerável, somos chamados a ver a parábola do samaritano de uma forma muito ampla, com os olhos voltados para a ação da humanidade, pois ela corrompe e é corrompida. Outro exemplo de ação que ajudará nessa reflexão é o profeta Oséias, ele que lutou muito contra as injustiças e contra a corrupção religiosa de seu tempo. O culto aos ídolos (bem-estar e sucesso) fazia que a religião fosse legitimadora da exploração e da injustiça. Isso leva a questionar as religiões que prometem sucesso material. O que hoje parece estar em moda com uma teologia da retribuição, em que as pessoas tentam negociar favores com Deus, crendo que Ele seja tão vulnerável quanto os humanos para ser corrompido. Onde está nosso tesouro?
Padre Edson Friedrichsen (Congregação da Missão)