Em uma casa nas dependências do Lar Bem-viver, de Iguatama (MG), foi criada uma fábrica de biscoitos. Quem passa pelo local sente o aroma da quitanda saindo do forno. Dá apetite! Menos para a responsável pela produção, Alessandra Aparecida de Oliveira (24). Ela não está nem um pouco preocupada em apreciar o quitute com uma boa xícara de café. Anda de um lado; confere a massa de outro; observa a temperatura e se assegura de que tudo está higienizado. Para Alessandra, o biscoito de polvilho não é uma simples iguaria; e sim, a certeza de que poderá garantir o sustento de casa. A jovem é assistida pela Conferência Nossa Senhora da Abadia e contemplada pelos Projetos Sociais do Conselho Nacional do Brasil da Sociedade de São Vicente de Paulo (CNB/SSVP).
Todos os anos, o CNB destina uma verba para financiar iniciativas de promoção social das famílias assistidas pela SSVP. Os projetos são selecionados e, os melhores, recebem recursos. A fábrica de biscoitos de Iguatama foi aprovada no ano passado, recebendo cerca de R$15 mil para iniciar as atividades. A proposta é de que as pessoas carentes trabalhem na produção da quitanda, possam comercializá-la e ter uma renda.
Em fase experimental, Alessandra foi escolhida para ser a primeira contemplada. E as mudanças já começaram a aparecer na vida dela. Com a renda anterior de R$450, sendo que metade era para o aluguel, a jovem nunca podia comprar nada do que os quatro filhos – de 7, 5, 3 e 2 anos – pediam. Com o novo trabalho, o ‘Não’ de Alessandra tem sido substituído por ‘Sim’. “Nós não passamos fome, mas eu nunca pude dar aos meus filhos o que eles queriam. E eles nunca me pediram nada demais. Era um leite, uma bolacha ou repor o lápis que tinha sumido na escola. Agora, graças a Deus e aos vicentinos, eu tenho conseguido comprar o que eles precisam”.
A fábrica de biscoitos tem a capacidade de produzir cerca de 20 kg do quitute por dia; cada quilo é vendido em média por R$16. Se Alessandra conseguir fabricar e vender tudo, pode ganhar R$160 diariamente, porque o lucro é de mais de 100%.
Como está na fase inicial, a fabricação tem sido menor. É a própria assistida que vem comercializando o biscoito no bairro onde mora, no entanto, a perspectiva é de que o projeto seja ampliado. “Queremos distribuir os biscoitos em pontos comerciais da cidade e região e, quem sabe, um dia, os assistidos poderão fazer outras quitandas”, explica o confrade Ricardo Fonseca, presidente do Conselho Particular Santo Agostinho, ao qual a Conferência Nossa Senhora da Abadia está vinculada.
E crescer profissionalmente é o sonho de Alessandra. “Esta é a maior oportunidade que tive em toda a minha vida e tenho certeza que é dela que tirarei um futuro melhor para os meus filhos”.
Fábrica de biscoitos vicentina tem os equipamentos mais modernos da cidade
Não pense na fábrica de biscoitos como algo improvisado. O dinheiro disponibilizado pelo CNB permitiu que os vicentinos comprassem equipamentos modernos, a exemplo de um forno industrial automático e de uma máquina denominada ‘pingadeira’, usada para dar forma ao biscoito. Esta máquina modela cerca de 64 biscoitos em menos de 10 segundos e, na cidade de Iguatama, só tem no projeto dos vicentinos.
Élcio Campos é vicentino e também padeiro. Ele tem ajudado nas atividades da fábrica e não a vê como concorrente. “Estou aqui para somar forças. O mercado oferece espaço para todo mundo trabalhar, e tenho certeza de que, ao ajudá-la, Deus cuidará para que nunca me falte nada”, garante ele.
BISCOITO MARILLAC
O biscoito produzido pelo Projeto Social de Iguatama recebeu o nome de Marillac. Uma forma de homenagear Luísa de Marillac (a santa que sempre esteve ao lado de São Vicente de Paulo) e de brincar com o som da terminação da palavra ‘lac’, que se assemelha com o ‘croc’ de quando um biscoito sequinho é mastigado.
Luísa, que foi responsável por ajudar muitas pessoas em situação de vulnerabilidade na França do século XVII, é agora a inspiração para Alessandra e as outras famílias que deverão ser inseridas no projeto.
Fonte: Redação do SSVPBRASIL