No Evangelho de Marcos 10, 35-45, Jesus não aparece exigindo homenagens. Pelo contrário, foge quando querem fazê-lo rei; pede que não divulguem certos milagres, recusa títulos. Tudo o que Ele quer é fazer a vontade do Pai, não em benefício próprio, mas para servir a todos.

Nosso modo de viver a vocação vicentina deve nos questionar: estamos mesmo a serviço ou nossa vocação é um motivo a mais para nos julgarmos melhores do que os outros? Jesus responde a Tiago e João que não tem privilégios a oferecer; o que Ele tem é uma missão que exige sacrifícios. Também não garante honrarias para ninguém, não é um político disposto a favorecer os amigos. O Filho do Homem veio para servir, não para ser servido; veio para dar a sua vida.

Alguns sintomas podem nos ajudar a identificar como usamos o nosso poder. O poder/serviço se alegra com o trabalho em equipe, quer ver o outro independente, sabe ouvir, dispensa homenagens, festeja o bem que os outros realizam, sabe desculpar e pedir desculpas, aprende sempre mais para servir melhor, respeita direitos e divergências, não se sente derrotado quando o outro tem razão, sabe como dar espaço para os outros crescerem. Quem segue Jesus e quer transformar a vida na direção do Evangelho tem que ter critérios diferentes, que não reproduzam a ambição e a vaidade do mundo.

A missão nasce não como uma tarefa, mas como uma exigência fundamental de “ser para os outros”, pois a Igreja nasceu para servir a todos. A vocação e a missão de todo discípulo de Jesus se resumem em servir e envolver todos num único ser, chamando todos a caminharem na mesma direção, doando a vida, sobretudo aos mais necessitados, para além de todas as fronteiras.

“Entre vós não deve ser assim”, alerta Jesus aos discípulos. Mas, assim como? Assim como os governantes que tiranizam e como os grandes que dominam. Infelizmente, passados tantos séculos, a constatação de Jesus é mais atual do que nunca. Ditadores se perpetuam no poder, mesmo à custa de populações inteiras na miséria. Dois governantes querem ao mesmo tempo se legitimar no poder, mesmo que isso custe embates entre os cidadãos sofridos. Jesus toma o exemplo do mundo político para alertar a sua Igreja sobre o mesmo perigo. A busca de privilégios é uma tentação constante. O domínio sobre o povo não deixa de ser uma ameaça. O exercício do poder para glória pessoal ou da instituição ronda constantemente às nossas portas. Ao dizer claramente como não deve ser entre nós, Jesus explica então positivamente como deve ser: “Quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos”.

O Evangelho termina com palavras em que Jesus afirma que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. Este texto do Evangelho vem logo após o terceiro anúncio da paixão, uma espécie de catequese aos discípulos, onde o Mestre explica como deverá ser a condenação, morte e ressurreição do Messias. De maneira surpreendente, o episódio lido mostra que os discípulos não entenderam nada. Ou pior ainda, para aumentar a confusão, entenderam exatamente ao contrário do que Jesus dissera. Pensaram que a proposta de Jesus era de honrarias e poder, sentados nos lugares mais importantes, feitos juízes dos demais.

Um exemplo de serviço na SSVP é do bem-aventurado Contardo Ferrini (1859-1902) que, desde as alturas acadêmicas e do requinte de seus conhecimentos, não deixava de visitar os Pobres semanalmente. E, para ação tão nobre, tirava suas roupas acadêmicas de importante letrado, vestia-se simplesmente e se dirigia à casa dos Pobres.

Que Deus nos conceda a humildade e a simplicidade para que na Rede de Caridade, possamos sempre servir nossos Mestres e Senhores!

Padre Alexandre Nahass Franco (Congregação da Missão-CM)

Assessor Espiritual do CNB

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