O reflexo da Mãe nas mães: do calvário à alegria

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Hoje é Dia das Mães! E para comemorar essa data tão especial e cheia de amor, vamos contar a história de duas ex-assistidas que conseguiram a promoção e se tornaram protagonistas de suas vidas e vicentinas. Mães, que como Maria, enfrentaram as dificuldades e desafio em nome dos filhos. Do calvário
à alegria, essas duas histórias de vida estão intimamente ligadas à SSVP. A primeira é a história de Consuelita Ferreira Costa, de 70 anos, da cidade de Governador Valadares/MG que foi entrevistada
pela redação. A segunda, é a vida de Neide Ferreira, narrada contada pela visão do filho, o confrade
José Heitor de Amorim.

Da roça à presidência

Consuelita com a filha Marcilene

A mineira Consuelita Ferreira Costa constituiu sua família em uma roça do vilarejo de Empossado, distrito da cidade de Virgolândia. Casada com Francisco, teve oito filhos (Maria Margarete, Márcio Glek, Magno, Marcilene, Marcilei, Arlen, Charles, Alan) e criou o enteado Edmilson, mais velho que todos. “A vida era difícil, mas tínhamos na roça onde plantar e o que comer. Foi lá que ouvi a primeira vez falar dos vicentinos. Tinha um senhor que era vicentino e só sabíamos que ele recolhia doações para ajudar quem precisava. Não tínhamos muito, mas ajudávamos a arrecadar e dávamos coisas que plantávamos, como hortaliças. Até que em 1989 meu marido precisou fazer um tratamento de saúde e tivemos que nos mudar para Governador Valadres”, lembra.

A mudança para Governador Valadares, uma cidade muito maior, não foi fácil. “Chegamos sem casa, sem
emprego, sem comida e com nove crianças, que tinham de 13 anos a nove meses. Foi muito difícil, na roça pelo menos tínhamos o alimento garantido. Até que apareceu a dona Naná, como é conhecida
a consócia Maria Cândida Moreira, e começou a nos assistir com a cesta básica em sua Conferência, a São
Joaquim”, conta.

O carinho com que Dona Naná tratou Consuelita é marcado até hoje na mineira. “Muito mais do que o
alimento, ela me ajudou a conseguir emprego. Comecei lavando a roupa dela e de repente estava lavando roupa para fora. Esse dinheiro ajudava e muito nossa família e ainda tínhamos a cesta básica. Naquela época conseguíamos deixar as nove crianças em casa para trabalhar e eu só conseguia sair, porque sabia que tinha comida para eles. Caso contrário, não iria. E tanto o trabalho quanto a comida eram ação dos vicentinos”.

A mãe de nove, nesse meio tempo, passou a ser mãe de 10. “Um dia meu marido apareceu com outro filho, o Erik, e o acolhi, assim como os outros”, lembra a mãe.

Três meses depois do início da ajuda, o marido de Consuelita passou em um concurso público e começou
a trabalhar na prefeitura. A família já não precisava mais da cesta de alimentos e fez questão de ir avisar na Conferência.

De assistida, Consuelita foi convidada a frequentar a Conferência Sagrado Coração de Jesus. “Estou lá até
hoje. São 34 anos de Vicentina, de muito trabalho e amor. Hoje sou presidente da Conferência, acho que pela sexta vez. Amo isso. Os vicentinos são tudo para mim. A SSVP é sagrada. Me ensinou muita coisa. Aprendi que não adianta ler e falar do Evangelho sem fazer. A fé sem obra é morta! E isso passei para todos os meus filhos, que além da Igreja, iam comigo na Conferência. Eles viraram vicentinos e chegaram a ter encargos. Hoje, por situações diversas, se afastaram fisicamente, mas a semente vicentina da caridade está dentro de cada um deles. Fui ensinando a eles fazer a caridade como um dia a gente recebeu”, afirma.

A família só foi aumentando. Hoje, seu Francisco já é falecido, mas Consuelita já é avó de 20 netos e bisavó de nove crianças. “Conseguimos que todos os filhos estudassem e se formassem. Todo o sacrifício valeu à pena. Minha vida teria sido muito diferente se não fosse pelos vicentinos. Hoje, como consócia, me arrepio quando vou visitar uma família assistida. Vou simples, mas me arrumo e vou cheia de amor e gratidão. Me identifico em ser hoje a mão estendida que um dia estenderam para mim e para minha família. Lá atrás recebi um milagre e hoje tento fazer melhor do que recebi”, finaliza a grande mãe, avó, bisavó e, sobretudo, como ela mesma diz, VICENTINA.

Neide Ferreira: Mulher e minha mãe guerreira

Neide com os filhos biológicos

Esta é a história de minha mãe, Neide Ferreira: Mulher e mãe guerreira. Filha de Ivoneta e Oscar, minha mãe Neide Ferreira nasceu no dia 09/06/1937, casou-se aos 16 anos e foi mãe aos 18 anos. Aos 27 anos foi abandonada pelo marido com seus oito filhos (Ângela, Rosângela, Marcos, Alcione, Maria José, José Heitor, Simone, José Santana, em memória). Eu, José Heitor, sou o sexto deles.


Lembro de um fato marcante: quando o meu irmão caçula, o Zito, estava nascendo, no quarto ao lado, uma das minhas irmãs estava quase falecendo e minha mãe, sentindo as fortes dores do parto, teve forças para fazer uma promessa a Nossa Senhora Aparecida pela vida dela. E Deus, na sua infinita misericórdia, atendeu à prece dela e a promessa foi cumprida logo após o casamento de minha irmã.


Eu era muito pequeno, me lembro quando meu pai saiu de casa, deixando minha mãe com os oito filhos. Ficou muito marcado para mim, pois eu e minha irmã agarramos na perna dele chorando para ele não ir. Não sabíamos nem falar, mas mesmo assim, com o nosso jeitinho, pedimos.

Aí a dificuldade chegou, fazendo com que minha mãe saísse atrás de serviço para conseguir o sustento da família. Arrumou faxina em três casas. O mais triste é que nas casas que trabalhava, ela sempre dizia que estava sem fome e o que sobrava das refeições, ela pedia permissão para levar para casa. O que para
eles era resto, para nós era uma alegria, pois íamos ter algo para comer. Muitas das vezes não tínhamos o que comer, então minha mãe nos colocava para dormir e mandava chupar dedo ou tomar água que a fome passaria.

Na casa éramos nove pessoas para duas camas: uma de solteiro e outra de casal. Mesmo nas dificuldades, éramos muito unidos e felizes. Passamos muita fome antes que a SSVP entrasse em nossa casa.
Não sei como e nem porquê, tivemos a visita de um senhor (José Antonio) que queria saber a real situação da família. Ele não acreditava no que havia lhe sido dito, que estávamos passando necessidades, pois ambos os lados da família, a materna e a paterna, tinham condições de nos ajudar. Porém, a ajuda vinha apenas de um irmão de minha mãe que sempre que podia trazia um alimento.


Após ouvir e constatar a realidade, José Antônio retornou, trazendo um saco de mantimentos enorme e
sugeriu para ela ir na reunião da Conferência relatar a situação em que estávamos.
E, a partir daí, então, passamos a ser socorridos pela Conferência Nossa Senhora da Conceição por um longo período.


Minha mãe continuou nas faxinas, que foi por mais ou menos 10 anos seu trabalho. Com o passar do tempo, minha mãe conseguiu um emprego com carteira assinada em uma mineração como cozinheira e algumas de minhas irmãs trabalhavam em casa de família. Foi quando a situação começou a melhorar.
Assim que ela começou a trabalhar nessa empresa, a primeira atitude foi de ir à Conferência para agradecer e dispensar a ajuda que recebíamos. E com isso, minha mãe foi convidada a ser consócia junto com minhas irmãs. Elas participaram por muitos anos da Conferência, chegando a ocupar encargos de presidente e secretária.


Decorrido o tempo, todos felizes, alguns já casados, minha mãe com netos, veio outra situação triste: meu irmão caçula adoeceu e veio a falecer no colo dela com apenas 17 anos de idade. Não foi fácil, passamos por um luto muito grande num momento em que parecia que as coisas estavam se ajustando para nossa família.


Eu ainda não participava de Conferência. Havia iniciado uma Conferência próxima de nossa casa e minha mãe chegou pra mim e me disse: “olha começaram uma Conferência lá no Taboca, nós devemos
muito à SSVP e você vai fazer parte com eles da Conferência”.


Era a Conferência Nossa Senhora da Piedade. Fui, gostei do trabalho, e também por motivo de gratidão, participei sempre com muito prazer e alegria. Depois, junto com alguns amigos da minha idade, fundamos uma nova Conferência, a São Francisco de Assis, onde estou até hoje.


Com o falecimento de um cunhado, Deus tocou no coração do meu pai e ele falou que queria fazer uma visita para minha mãe e minha irmã, que ficou em choque com o falecimento. Perguntei a ela se aceitava e ela disse que sim. Esse foi o início do perdão e ele nos visitou depois de longos anos. Um ponto importante sobre minha mãe é que, apesar de toda dificuldade que passou, ela nunca falou algo que ofendesse a imagem do meu pai e sempre pediu que nós o procurássemos; uns foram, outros não.


Quando ele adoeceu, em 2005, minha mãe me disse: “ele é seu pai e o dever de cuidar dele é de vocês”. Então, eu e algumas irmãs fomos cuidar dele em sua casa. Um dia minha mãe o visitou e ele veio a pedir perdão para ela, que o perdoou. Acredito que essa enfermidade foi o momento de conversão dele. Agradeço minha mãe, pois eu acredito que ela abriu as portas do céu para ele.


Hoje minha mãe com seus 85 anos, sete filhos, 16 netos, 19 bisnetos, ainda lúcida, continua em sua casa, com sua rotina, sendo feliz fazendo suas comidas e quitandas deliciosas e, apesar de tantos sofrimentos durante o percurso de sua vida, não reclama de nada. Toda semana envia prendas para serem rifadas com
muito amor e gratidão em um leilão para a Conferência e também contribui como subscritora, desde
quando não pôde mais participar das reuniões por motivos de saúde.


Tenho orgulho de minha mãe, uma mulher guerreira, que fez de tudo para nos criar não só com saúde
e alimentação, mas com fé e espírito de caridade. Um exemplo de mãe!


Confrade José Heitor de Amorim, da Conferência São Francisco de Assis, em Ibirité/MG

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