Setembro amarelo: Psicóloga vicentina alerta que suicídios podem ser prevenidos

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a cada cem mil brasileiros, pelos menos 70 tiram a própria vida. O Brasil é o oitavo país com mais suicídios no mundo, atrás apenas de Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão. Os índices mostram que um suicídio acontece a cada 40 segundos. Ainda segundo o relatório, esse tipo de morte é provocada principalmente pelo tabu criado em torno do tema, já que muitos Governos e famílias não abordam a questão abertamente. “Aumentar a conscientização e quebrar o tabu é uma das chaves para alguns países progredirem na luta contra esse tipo de morte”, afirma o estudo. Por isso, ‘Falar é a melhor solução’ – tema escolhido para o Setembro Amarelo de 2016, campanha nacional de combate ao suicídio.

A Campanha existe desde 2014. No mês de setembro, são realizados debates e palestras sobre o assunto. Muitos patrimônios públicos também são iluminados com a cor amarela em apoio à iniciativa. A proposta é fazer com que a sociedade reflita o assunto, trate-o como um problema de saúde pública e esteja preparada para lidar com a situação. Ainda segundo a OMS, 90% dos casos de suicídios poderiam ter sido prevenidos, porque estão associados a psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis, a exemplo da depressão.

Para saber mais sobre a campanha, clique aqui.

dayseO site SSVPBRASIL entrevistou a psicóloga Dayse Hespanhol da Cunha Félix, que é formada pela Universidade Vale do Rio Doce e trabalha na área há 34 anos. Ela é especializada em Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia. Além de psicóloga, Dayse também é vicentina, membro da Conferência São Lucas, na área do Conselho Metropolitano de Governador Valadares (MG).

SSVPBRASIL – O que leva uma pessoa a querer tirar a própria vida?

Dayse Hespanhol – Muitos são os fatores individuais associados ao aumento do risco de suicídio. Temos sintomas específicos como: ansiedade, impulsividade, agressividade, isolamento, a própria rigidez. Outros fatores de risco importantes para o suicídio: abuso físico, história familiar positiva para suicídio e comportamento agressivo-impulsivo. Há de se ressaltar que 90% das pessoas que apresentam comportamento suicida têm também quadros psiquiátricos, principalmente transtorno de humor.

SSVPBRASIL – Qual é a melhor forma de combater o suicídio?

Dayse Hespanhol –  Uma das portas da prevenção é o diálogo; reserve um lugar tranquilo e adequado para ouvir a pessoa. Não tenha receio em perguntar a ela o motivo de tal decisão.

SSVPBRASIL – Os vicentinos visitam semanalmente famílias em situação de vulnerabilidade social. Quais dicas a senhora dá a eles para possam observar se algum dos membros tem predisposição ao suicídio?

Dayse Hespanhol – Em primeiro lugar, a Conferência deve ter os dados cadastrais dos membros assistidos, bem como do histórico familiar.  Não somos “profissionais” para realizar na visita domiciliar uma consulta ou até mesmo um olhar clínico, mas podemos levantar algumas hipóteses caso um membro esteja com a predisposição para uma depressão que, por ventura, esteja associada ao suicídio. Feito isso, o assistido deve ser encaminhado para os CAPs (Centro de Apoio Psicossocial) da cidade ou às universidades que possuem centros de acompanhamentos destinados a esses casos.

Pois bem, vamos aos possíveis sinais:

  • Mudanças bruscas no comportamento de qualquer ordem;
  • Decisões súbitas de preparar documentos, concluir afazeres;
  • Afirmações que denotam desesperança e ideias de fracasso;
  • Isolamento social e inabilidade para relacionamentos;
  • Uso de drogas lícitas ou ilícitas;
  • A comunicação prévia de que iria ou vai se matar;
  • Mensagem ou carta de adeus, planejamento detalhado;
  • Afirmação clara de que deseja morrer.

SSVPBRASIL – Qual é o tratamento?

Dayse Hespanhol – O tratamento deve ser multidisciplinar, focando no acompanhamento individual, em que o indivíduo possa sentir segurança e acolhimento diante de suas dificuldades; com parceria especializada do psiquiatra.

SSVPBRASIL – E qual deve ser o papel do cristão em ajuda a essas pessoas que perderam a vontade de viver?

Dayse Hespanhol – Fale pouco e ouça com atenção; não julgue e mostre empatia pela pessoa. Antes de tudo, seja qual for a demanda que levou aquele indivíduo a buscar a tentativa de morte, nós como cristãos devemos respeitá-los e não nos cabe julgar ou deduzir fatos. O nosso papel deve ser de escuta. Ouça o seu sofrimento, valorize o que é dito e demonstre que está ali naquele momento disponível para ajudá-lo. O exercício do seu silêncio é ao mesmo tempo espaço para perceber a sua dor, seus medos e ansiedade. Faça a escuta necessária sem interrogações e mostre que você vicentino se importa com ele. A melhor estratégia de combater o isolamento (que é um forte fator de risco) é o apoio emocional dos familiares, amigos e comunidade. Concluo, com um poema de minha autoria:

Ando rabiscando palavras.
Ando vivendo com as idéias em movimento.
Assim deve ser a vida.
Minha vida.
Sua vida.
Nossas vidas.
Sempre em movimentos.
Mover-se para o mundo.
Mover-se para vIDA.
Cabe a nós escutar.
A escuta pode salvar vidas.
O toque pode curar as feridas.
A presença pode afastar a solidão.
O encontro pode fortalecer as relações.
Setembro amarelo. A vida vale ouro.

Fonte: Da Redação do SSVPBRASIL

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