Sabe aquelas experiências inesquecíveis e enriquecedoras que vez, ou outra, a gente passa nessa vida? Pois é, com certeza, o Encontro Internacional da Juventude Vicentina (EJV) e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foram (e são) uma dessas experiências únicas e transformadoras.
E de tão especial que foi a experiência de viver/ser peregrino, sobretudo em outro país, trouxemos esta baita matéria, cheia de amor, de depoimentos, com o intuito de compartilhar com vocês toda nossa vivência de partilha, de espírito e energia revigorada vividos nesses dois eventos no Panamá.
Mas, vamos começar pelo início, não é mesmo? Bem-vindo (a) a bordo e se prepare para viajar conosco nessa aventura. Tripulação, cheque de portas! Decolagem autorizada! Boa Viagem!
Éramos no total 55 brasileiros vicentinos (42 advindos do grupo organizado pelo CNB). Não chegamos todos juntos ao Panamá: uns chegaram pela Costa Rica, outros chegaram direto pelo Aeroporto de Tocumen. Uns chegaram bem antes, outros só no dia do início do encontro. Mas o coração, ah! Esse sim estava em uníssono, quase explodindo de alegria e ansioso por viver aventuras e novas descobertas.
Choques Culturais
Chegando ao aeroporto do Panamá, o primeiro choque cultural que nos deparamos foi: a língua. Agora, imagine você, logo ao chegar no país, e não saber falar a língua! É um exercício de confiar em Deus e se jogar. Ali, certamente, começou nosso processo de entrega e aprendizagem (e que se estendeu até o fim de nossa viagem).
Além da língua, outros choques culturais surgiram e nos ensinaram muita coisa. Certamente é quase um consenso que a comida panamenha nos deixou levemente desconfiados no início, mas que logo foi incorporada por todos nós durante toda nossa jornada. Vai um arrozinho com feijão de manhã no desjejum? E que tal uma salsicha com tortilha? Pois é, essas foram algumas experiências gastronômicas que tivemos, mas que depois do susto inicial, soubemos entender e apreciar.
“Eu não gosto de feijão e no Panamá isso mudou o meu conceito sobre. Quase todos os pratos típicos eram misturados o arroz e o feijão. Mas o preparo e o carinho que eles tinham conosco fez com que eu me sentisse à vontade para experimentar novos sabores. Tive a oportunidade durante o EJV de preparar o feijão, colher e separar para o cozimento e até na alimentação que tivemos, vi aprendizado” – consócia Paula Tobias, membro da Conferência Nossa Senhora de Fátima (CM São Paulo).
EJV- A ALEGRIA DE SER VICENTINO!
“O Encontro Internacional da Juventude Vicentina foi uma experiência espetacular, pudemos trocar experiências com seguidores do Carisma Vicentino de várias partes do mundo, onde as diferenças linguísticas não eram empecilho algum” – confrade Anderson Ferreira (Conferência São Benedito/MG e Coordenador para a juventude da Região 1).
O local onde ocorreu o EJV é uma obra da Família Vicentina, sob a responsabilidade das Filhas da Caridade, chamado “Hogar San José de Malambo”, em Arraiján, Panamá. Nossas acomodações se deram de forma simples em salas de aula. Ao fazer a inscrição, já haviam nos informado da necessidade de levarmos nossos sacos de dormir, mas Deus é tão maravilhoso, que nem foi preciso, pois de véspera, o local recebeu doação de colhões infláveis e não foi necessário dormirmos em nossos sacos – nada confortáveis. verdade seja dita – de dormir.
Você deve estar se perguntando, afinal, que é o EJV? É um encontro que reúne a juventude vicentina do mundo todo para celebrar o Carisma herdado de São Vicente de Paulo. É nossa pré-jornada, onde vivenciamos nosso Carisma Vicentino, juntamente com todos os ramos da Família Vicentina (FAMVIN), fortalecendo e criando laços de amizades.
“Tenho que o EJV possui um aspecto sempre celebrativo do nosso Carisma Vicentino, da nossa vivência e alegria de ser jovem vicentino, assim me senti em família que independe da língua, crença, roupas e localização geográfica para existir um elo, me senti ali parte de algo ainda maior. A oportunidade de estar inserido participativamente de um evento deste porte me liberta ainda mais de bolhas culturais e existenciais perante à realidade do outro e me faz valorizar a capacidade do ser humano de continuar sendo humano” – confrade Fausto B. Costa (Conferência Nossa Senhora do Carmo, vinculado ao Conselho Central de Ubá, da área do Conselho Metropolitano de Juiz de Fora).
O tema deste ano foi “A alegria de ser vicentino” e nada mais verdadeiro e propício, pois onde há espírito vicentino, há alegria. Fomos convidados durante todo o encontro a refletir nosso serviço em missão com entusiasmo, comprometimento e seguindo nossa Mãe Maria Santíssima como exemplo de serva missionária alegre.
Foram dias de muita interação, catequeses maravilhosas e Santas Missas nas línguas: inglesas, espanhola, portuguesa. Tivemos momentos culturais riquíssimos, inclusive nossa delegação brasileira da SSVP organizou uma apresentação cultural regada a muita alegria, samba e bola no pé.
JMJ- FAÇA-SE EM MIM SEGUNDO A TUA PALAVRA
A Jornada Mundial da Juventude, carinhosamente chamada de JMJ, é um grande evento católico, criado em 1986, por São João Paulo II, e atualmente reúne jovens católicos, e não católicos, de todo o mundo. Sua iniciativa é celebrar a fé em Jesus Cristo e mostrar o rosto jovem da Igreja.
A JMJ aconteceu nos dias 22 a 27 de janeiro de 2019 e, juntamente com Papa Francisco, fomos convidados com o tema “Eis aqui a serva do Senhor, Faça-se em mim segundo a tua palavra! (Lc 1, 38)” a responder o SIM, tal qual Maria, ao convite de Deus a sermos uma igreja em saída e ao amor.
Nossa delegação chegou à Paróquia San Pio, em Tocumen, e lá fomos surpreendidos pela notícia de que ficaríamos hospedados em casas de família, notícia essa que nos pegou desprevenidos, pois imaginávamos que todos ficaríamos juntos. Mas novamente digo: Deus é maravilhoso e bom o tempo todo, não poderíamos ter tido melhor vivência enquanto vicentinos, do que ter a experiência de ficarmos hospedados com famílias panamenhas.
Os peregrinos de nossa delegação, divididos em duplas e trios, foram adotados por uma família panamenha. Fato este que nos fez emergir inteiramente na cultura e língua local, nos fez vivenciar a realidade de um bairro mais pobre e afastado do centro (Tocumen é um bairro longe, onde tínhamos que pegar 1 ônibus e 2 linhas de metrô para chegar ao centro da cidade), nos colocou na experiência de viver o Panamá com mais vigor, doação e entusiasmo.
Ganhamos além de amigos verdadeiras famílias, pois fomos adotados de verdade! “Mamás” e “papás” panamenhos, cujo amor e vontade de nos acolher nos permitiram presenciar uma experiência de amor e caridade tão fortes que não houve limitação de língua nem de cultura que bloqueasse nossa comunicação.
A Vigília e Missa de envio
E chegou o grande dia, o momento que sabíamos ser de grande desafio. Saímos em direção ao local da vigília, às 9h do sábado, andamos por volta de 8km no sol, para chegar até o local onde seria distribuído o kit de alimentação para o sábado e domingo.
Kits em mão, mochila nas costas, coração ansioso, protetor (muito protetor) solar no corpo e seguimos em caminhada rumo nosso destino: campo São João Paulo II.
Nossa vigília foi regada a muita música, animação, aranhas subindo em nossos sacos de dormir (sim, você leu certo, aranhas). Ao final da tarde, Papa Francisco chegou ao Campo São João Paulo II e partilhamos momentos de riquíssima espiritualidade e adoração. Imagine a cena: milhares de pessoas, em um campo imenso, em pleno silêncio e adoração! Foi de arrepiar a alma! Dentre nossa delegação, um chamado especial aconteceu ao jovem confrade Henrique Santana, que é Membro da Conf. São Domingos de Sávio, da área do CM de Governador Valadares, e que também compõe a Comissão de Jovens deste presente CM:
“Eu que tive a honra e graça de poder participar da adoração ao Santíssimo no sábado à noite, de um setor bem próximo do altar, percebi a paz que ele (Papa) transmite. Ali, num silêncio total, adorei a Deus no Sacramento, junto com o Papa Francisco, a imagem de Nossa Senhora de Fátima e aproximadamente 700.000 pessoas de todas as partes do mundo, presentes no Campo São João Paulo II. Naquele momento, percebi que estava reacendendo o fogo do Espírito Santo em mim, recarregando o meu ânimo e atualizando meu SIM aos projetos de Deus que pronunciei há tempo”
Ao amanhecer, à 6h, o campo São João Paulo II, despertou com ao ritmo de “Good morning everybody!” (Bom dia a todos) e “Arriba, arriba corazones (Pra cima, levantem-se corações)” de forma muito empolgada, assustando alguns, animando outros, mas que certamente marcou a todos que ali estavam. Após o despertar, acompanhamos o nascer do sol belíssimo e pontualmente às 8h, Papa Francisco chegou para celebrar conosco a Santa Missa de envio.
De forma muito pessoal, as palavras do santo padre entraram em nossos corações como flecha, marcando nossa JMJ para sempre e fazendo com que trouxéssemos esta mensagem às nossas Conferências, ao nosso ambiente familiar, ambiente de trabalho, ambiente de lazer e, sobretudo, para nossos assistidos.
“Porque vós, queridos jovens, não sois o futuro, porque é normal dizer os jovens são o futuro, não. São o presente, vocês, jovens, são o agora de Deus[…] Ele convoca-vos e chama-vos, nas vossas comunidades e cidades, para irdes […] tomar a palavra e realizar o sonho com que o Senhor vos sonhou. Não amanhã; mas agora!” – Papa Francisco
Algumas curiosidades:
- Esta foi a primeira JMJ dedicada totalmente a Maria.
- Os terços que os jovens ganharam no kit peregrino são especiais de madeira de oliveira, fabricados em Belém (Palestina).
- Este foi o primeiro evento de grande porte no Panamá.
- O povo panamenho é muito acolhedor, alegre e receptivo.
- A cidade do Panamá é realmente muito quente e lá venta muito (Por isso, a maioria dos chapéus tem uma proteção para amarrarmos o mesmo na cabeça).
- Os famosos chapéus panamenhos, na verdade, não são produzidos no Panamá.
Como é ser um peregrino na JMJ?
Para entender um pouco do que foi ser um/uma peregrino (a) nessa experiência, precisamos colocar as cartas na mesa, palavras-chave que fazem parte da rotina que definem o ser peregrino: abdicação, desprendimento, alegria, serviço, deixar-se surpreender e estar aberto. Nada melhor do que peregrinos para descreverem o que é ser/estar como tal:
“JMJ é um momento propício para recarregar as forças e ir para missão. Serve para lembrar que podemos viver com muito pouco, o desapego é a palavra de ordem sempre. O exercício da cultura do encontro é constante, conviver esses dias com outras pessoas de vários lugares é mágico e intenso. Às vezes, não compreendemos em palavras, mas conversamos com os sorrisos, o olhar e os abraços. Contextualizando a JMJ, é bem semelhante com nossos trabalhos vicentinos, porque o cuidado e o amor com o outro é constante. Fomos amados e amadas o tempo todo, os panamenhos foram os autênticos cristãos. Voltei pra casa renovada com o propósito de mudar a vida daqueles que cruzarem meu caminho. A JMJ vem reafirmar que todo sonho é possível e o sonhar que mantém o ser humano vivo. Papa Francisco nos incentiva à prática do amor, e o só o amor que salva vidas. Viva o amor, viva a Juventude com propósitos!” – consócia Junia Dabia (Membro da Conferência São Geraldo Magela e coordenadora de CJ do CM Governador Valadares)
“A cada JMJ que tive oportunidade de ir, vivenciei cada uma de forma particular e diferente, porém todas elas eu tive que praticar o desapego das coisas, me deixar envolver sobre os momentos e as coisas que acontecia em minha volta, é necessário deixar-se ser surpreendido. Nesta, exercitei a oportunidade de esvaziar-me das minhas misérias humanas, dos meus limites e busquei o encontro com outro. Papa Francisco disse em umas de suas primeiras falas que para conseguirmos grandes mudanças no mundo é necessário nos unirmos como igreja; precisamos sair de nós pra estar no outro também” – confrade Fausto B. Costa (Membro da Conferência Nossa Senhora do Carmo, da área do Conselho Metropolitano de Juiz de Fora)
Este “sair de nós para estar no outro” requer, sim, alguns sacrifícios e um distanciamento da nossa zona de conforto, o que consequentemente torna essa uma tarefa nada fácil. Entretanto, é algo que com certeza modifica nossa vida por inteiro, tendo em vista que já não é possível ser o mesmo depois de vivenciar uma experiência dessas.
“Trago do Panamá a certeza de que a juventude é sim capaz de fazer diferente, de mostrar uma “cara” nova e reafirmar a nossa fé” – confrade David Emanuel (membro da Conferência Nossa Senhora da Conceição e Coordenador para juventude da Região 6)
Todo vicentino por si só já é um peregrino. Ao realizarmos nossa missão de ir aos nossos Mestres e Senhores, somos convidados a deixar nossas limitações e deixar-nos conduzir por Deus, abrir espaço para o novo e novas descobertas, nos desprender da nossa “preguiça”, do nosso “medo” e estar por inteiro na missão. Que saibamos exercitar nosso espírito missionário peregrino em nosso cotidiano. Nosso tempo é agora! O hoje nos aguarda e é nele que temos que praticar e agir.
Consócia Luiza Nayara Costa, membro da Conferência de São Francisco Xavier, vinculada ao CM Belém e coordenadora de juventude para Região 7.